Bahia de Todos os Fatos

...1889 - 1899...

Com lentidão, a república
se instala na Bahia.

Governadores:
Virgílio Clímaco Damásio
Manoel Vitorino Pereira

Neste ano são criados os municípios de São Félix, Seabra e Urandi.

O ano da República encontra o país mergulhado na crise que já se arrasta há tempos. A centralização do poder entrava a revelação das potencialidades diversificadas das províncias, impedindo que andem por si mesmas e aumentando a distância entre o Brasil e os países que se
industrializam com rapidez, impacientando as vanguardas brasileiras, ansiosas para verem vigorar no país os ideais republicanos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Governador Virgílio Climaco Damásio

 

A organização partidária da Bahia demonstra bem a posição da província em relação à República. Mesmo às vésperas da proclamação, três clubes republicanos, organizados às pressas, sobrevivem na marginalidade política. Os dois políticos baianos mais destacados, Rui Barbosa e J.J. Seabra, não militaram no Partido Republicano, inexistente na Bahia até o 15 de Novembro. E tal fato era facilmente justificável, ante o prestígio e o poder de que gozavam os políticos baianos no governo monárquico. Nos inventários que se seguem sobre a era imperial, a força dos nordestinos junto ao imperador revela-se incontestável, destacando-se a Bahia, que no período de 1847 a 1889 esteve à frente de dez dos trinta e um governos parlamentares daquele período.

O coronel Frederico Cristiano Buys, comandante do 16º Batalhão de Infantaria, entra em contato com Virgílio Damásio e Deocleciano Ramos para fazer valer a Proclamação da República na Bahia. Na tarde do dia 16, o coronel e os dois civis lideram manifestação de apoio à nova ordem no Forte de São Pedro, com a participação de soldados, alguns estudantes e antigos membros do Clube Republicano. O grupo se dirige da cidade, onde se registram alguns tumultos. 

A tensão diminui na manhã do dia 17, já que as notícias que chegam da capital federal não registram qualquer resistência à República. O governo provisório instalado no país tem dificuldades para designar o governador interino da Bahia, dada a inexpressividade dos políticos baianos pró-República. A escolha acaba recaindo em Manoel Vitorino, o qual, uma vez nomeado, procura o presidente da (até então) província, o conselheiro Almeida Couto, para comunicá-lo da decisão do governo provisório da República. Este, após reunião na Câmara Municipal e com o apoio do marechal Hermes, ainda fiel à Monarquia, telegrafa ao presidente declarando-se em desobediência à nova ordem e o acatamento da Bahia às leis do Império.

O governador nomeado, por sua vez, não assume de imediato o cargo, cabendo a Virgílio Damásio, republicano histórico, a função de afirmar o novo momento político entre os baianos, afastando os perigos de quaisquer tentativas de ressurgimento da Monarquia, apesar das notícias da capital federal não registrarem qualquer resistência à República. Damásio permanece à frente do governo até o dia 25, quando, uma vez fortalecido o novo sistema, Manoel Vitorino assume a administração estadual.

A República, apesar dos ideais de liberdade que apregoa, não garante a simpatizantes da Monarquia a segurança obrigatória, sobretudo quando se trata do cidadão comum. Assim é que Manuel Benício dos Passos, baiano, pardo, com o vício da embriaguez, se vê, sem nada que o justificasse, levado à condição de primeiro preso político do novo regime: preso e espancado muitas vezes, por se manifestar publicamente a favor da Monarquia, sempre embriagado, acaba por fim sendo considerado doente mental. Afrânio Peixoto, que o examina, considera-o “um criminoso reincidente, cleptomaníaco”, dando-o como epiléptico.

Várias Câmaras Municipais declaram adesão ao novo sistema de governo: Feira de Santana, Rio de Contas, Camamu, Canavieiras, Alcobaça, Serrinha, Jaguaripe, Itaparica, Santo Antônio de Jesus, Maragogipe e Cachoeira. 

Virgílio Damásio lança manifesto em prol da República, advertindo sobre as futuras composições partidárias nas quais os monarquistas poderiam aparecer com nova feição, alertando, ainda, Manoel Vitorino para que venha a agir com a necessária firmeza, sob pena de perder as rédeas do poder.

Governador Manoel Vitorino Pereira

 

Eclodem manifestações variadas em apoio à República: passeata pública com a participação de vários segmentos da sociedade; grande ato cultural no Teatro São João, com a presença de diversas autoridades; festa pública no centro da cidade, organizada pelo Clube Republicano, entre outras.

O bispo de Salvador, dom Luiz Antônio dos Santos, envia telegrama ao marechal Deodoro da Fonseca, manifestando o apoio da Igreja ao governo provisório: “O arcebispo da Bahia, com seu clero, saúdam na pessoa do general Deodoro, o novo regime estabelecido, e imploram as bênçãos do Céu sobre os esforços dos filhos da Terra de Santa Cruz, pela prosperidade e felicidade da mesma”.

Visando manter a ordem pública, o governo institui um corpo de guarda cívica, a Polícia Civil, e reorganiza o corpo policial do estado, que passa a chamar-se Corpo Militar de Polícia do Estado Federado da Bahia.

Circula denúncia sobre racismo na Guarda Cívica, na qual “só são aceitos brancos, pardos e mulatos disfarçados”, com a exclusão dos negros.

Em Feira de Santana é fundado o Clube Republicano.

O governo propõe-se a realizar uma radical reforma na educação pública no estado, “direcionando-a para uma relação mais universal do homem com o mundo, tirando todos os dogmas existentes até então, quando o ensino era castrado pelo Império e pela Igreja”.

O governador Manoel Vitorino preside reunião na Associação Comercial, na qual realiza explanação sobre a situação econômica do estado. Analisa a situação deplorável em que se encontram as lavouras, em decorrência da abolição da escravatura e dos altos encargos de exportação e taxas aduaneiras que prejudicam não só a indústria como também a agricultura, além das dificuldades com os transportes, já que as estradas de ferro até então não trazem benefícios à agricultura.

O governador designa comissão para estudar e elaborar uma Constituição para a Bahia, para a qual são nomeados José Antônio Saraiva, Anfilófio Botelho Freire de Carvalho, Virgílio Clímaco Damásio, Luiz Antônio Barbosa de Almeida e Emanuel Teixeira Soares.

O delegado da cidade de Caetité informa ao governo do estado a situação dramática que atravessa a região em decorrência da seca, solicitando-lhe providências para amenizar o sofrimento da população.

Morre, no Rio de Janeiro, o estadista do Império João Maurício Wanderley, barão de Cotegipe, baiano da Barra do Rio Grande do São Francisco.

O arcebispo dom Luiz Antônio dos Santos extingue a lavagem do Bonfim, respaldando-se no governo, que via em qualquer manifestação popular uma ameaça à sua estabilidade.

Começa a circular o Pequeno Jornal, dirigido por César Zama, periódico que, mais tarde, se caracterizará por forte oposição ao governo de Manoel Vitorino.

Começam a funcionar dois novos charriots (planos inclinados), a transportarem pessoas entre as partes alta e baixa da cidade. Nos dois primeiros dias de funcionamento, o transporte foi, respectivamente, de 2.178 e 4.266 pessoas.

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