Bahia de Todos os Fatos

...1889 - 1899...

Polícia impede a lavagem do bonfim

Governadores:
Manoel Vitorino Pereira
Marechal Hermes Ernesto da Fonseca
Virgílio Clímaco Damásio
José Gonçalves da Silva

São criados os municípios de Angical, Araci, Aratuípe, Barra da Estiva, Bom Jesus da Lapa, Conceição do Almeida, Conceição do Coité, Mundo Novo, Palmeiras e Una.

O governador Manoel Vitorino divulga um balanço da sua administração, a qual apresenta como uma gestão que incentiva a difusão do ensino popular, cria a milícia civil, volta os olhos à elaboração da Constituição Estadual e funda o Arquivo Público do Estado da Bahia (em 15 de janeiro de 1890). Durante seu governo, a Bahia passa de “província unitária” a “estado federativo”, e são dissolvidos os partidos Conservador e Liberal, remanescentes do Império, na tentativa de realizar-se a conciliação política.

Em solenidade aberta ao público, toma posse o primeiro Conselho Municipal da República.

Seguindo o projeto republicano, o governo edita uma lei que separa a lgreja do Estado, dissolvendo quaisquer ligações existentes entre ambos e proibindo os governadores dos estados de estabelecerem uma religião oficial.

Funda-se o Club Militar do Estado Federado da Bahia, tendo como presidente Hermes da Fonseca, comandante da guarnição do Exército em Salvador.

Os presos da penitenciária do estado mandam celebrar uma missa em ação de graças pelo restabelecimento do chefe do governo provisório, Deodoro da Fonseca.

O Teatro São João é palco das reuniões do Club Republicano em Salvador, onde começam a despontar lideranças como César Zama e Virgílio Damásio, entre outros.

O Jornal da Bahia exige do governo de Manoel Vitorino o respeito à sua livre expressão.

Governador Hermes Ernesto da Fonseca

 

O governo promove a dissolução de Câmaras Municipais, criando-se as intendências, num processo de reorganização da estrutura política do estado, com vistas a moldar as instituições aos preceitos republicanos. Entretanto, a sociedade não vê com bons olhos as demissões em massa decorrentes de tal providência, alegando-se que o cidadão tem direito de escolher os membros das Câmaras em todo o estado.

O governador Manoel Vitorino, em decorrência de desentendimentos com o governo federal, deixa o cargo, sendo nomeado o marechal Hermes da Fonseca, que assume o comando para consolidar as instituições republicanas. Permanece por cinco meses à frente do governo provisório, após o que, por motivos de saúde, acaba transferindo o cargo ao vice- governador Virgílio Damásio.

O Ministério da Justiça expede comunicação ao governador Hermes da Fonseca, dando competência aos juízes de paz para nomeação dos seus escrivães e responsabilizando-os pelo cumprimento das disposições do Decreto nº 521, de 26 de junho, o qual proíbe a realização de cerimônias religiosas antes do casamento civil. Em ato “o mais solene possível, com a presença de autoridades e pessoas mais bem posicionadas na sociedade local, realiza-se (em 5 de setembro) o primeiro casamento civil no estado, com cerimônia no Paço da Intendência Municipal da Vila Vitória, casando-se os nubentes José Neves d’Oliveira e Maria da Conceição de Jesus”.

São realizadas, em 15 de setembro, eleições para deputados e senadores o 1º Congresso Nacional, destacando-se entre os deputados mais votados João Ferreira de Araújo Pinho, José Joaquim Seabra, Severino dos Santos Vieira, Leovigildo do Ypiranga Amorim Filgueiras e Aristides César Zama. Para o Senado, o destaque fica para Rui Barbosa.

O governo republicano provisório cresce na avaliação popular, na medida em que busca empreender a discussão de muitas reformas, há tanto tempo engavetadas:

“O Brasil nasceu a 7 de setembro,
desmamou-se a 13 de maio
e emancipou-se a 15 de novembro”
(conceito popular)

O governo obtém na Inglaterra um crédito de cinco milhões de libras esterlinas, destinado à aquisição de materiais para o prolongamento da Estrada de Ferro Bahia ao São Francisco.

Com a dissolução dos partidos políticos, em virtude do advento da República, novas agremiações vão surgindo, com vistas à formação da Assembleia Constituinte: o Republicano, que tem como meta a consolidação da República, e o Católico-Nacional, que a ela resiste, e é definido como “um partido disfarçado num puritanismo que quer, no seu exagero, um governo superior a todas as contingências humanas”.

Governador José Gonçalves da Silva

 

José Gonçalves é nomeado governador da Bahia, pelo governo federal, em 16 de novembro, assumindo em substituição a Virgílio Damásio, vice- governador que se encontrava no exercício do cargo.

Em Salvador, o resultado das eleições para o Congresso Constituinte Federal é favorável aos opositores da República, os católicos-nacionais. Mas no Brasil a vitória é dos republicanos.

Celebra-se em 15 de novembro o primeiro aniversário da República, com alvorada em todos os quartéis e em algumas das principais praças. Bandas marciais percorrem as ruas e é tocado o Hino Nacional diante dos Palácios do governo, do comandante das armas e do intendente municipal. Após continência ao governador, realiza-se marcha militar até o Campo Grande. À noite, sessão solene no Club Militar. A Escola Normal de Homens participa dos festejos, ornamentando e iluminando o edifício da escola, na Piedade. Realiza-se, também, uma grande passeata cívica. O Conselho Municipal sai com seu estandarte. A Intendência conclama os cidadãos a iluminarem por três noites as frentes das suas casas, “ornando-as de flores e bandeiras, em regozijo pela grande data em que o país entrou no caminho de seu verdadeiro engrandecimento e liberdade”.

A seca no interior do estado começa a desequilibrar o quadro social e já há registro de conflitos entre os proprietários de terras e a população faminta, além de ataques a vilas e cidades, em busca de alimento. Na capital, o seu reflexo é a alta dos preços dos gêneros alimentícios. A seca deste ano foi tão violenta que ficou conhecida como “a seca de noventinha”. As estiagens prolongadas já vinham acontecendo desde 1887, não permitindo o solo se recuperar nem tampouco armazenar água, de modo que os rios não conseguiram regar todo o seu leito. A situação se agravou mais neste ano, aumentando com o passar dos dias a miséria e a falta do que beber e comer do sertanejo. Este ambiente propicia o apego do homem do sertão à fé, e até ao fanatismo: como exemplo, tem-se as andanças de Antônio Conselheiro pelas cidades sertanejas, construindo e restaurando igrejas, cemitérios e açudes, sendo que “até mesmo fundou dois povoados que hoje são as cidades de Crisópolis e Chorrochó”.

“Incelença pra terra que o Sol matou
Levanto meus olhos
pela terra seca
só vejo a tristeza
qui disolação
e u’a ossada branca
fulorano o chão
e o passu-Rei, rei do manjá
deu bença à Morte prá avisá
prus urubú de ôtros lugá
qui vince logo pru jantá
do Rei do Fogo e do luá
do luá sizudo
do Ri Gavião
Mais o Sol malvado
quemô os imbuzêro
os bode e os carnêro
toda a criação (…)”
(Elomar. Fantasia leiga para um rio seco. Inspirada na “seca de noventinha”)

Contrariando ordem do arcebispo, o povo se apresenta para a lavagem do Bonfim, sendo, contudo, repelido pela Guarda Cívica, que recolhe vassouras, violas, vasos de barro, harmônicas. Os soldados gritam “hoje, aqui, não tem lavagem!”.

O primeiro Carnaval republicano, na capital, é um fiasco, com pouca participação popular

O primeiro Carnaval republicano, na capital, é um fiasco, com pouca participação popular

Criada a Irmandade de Santa Cecília, cujo estatuto, no artigo primeiro, estabelece que “toda pessoa que quiser exercitar a profissão de músico, seja cantor ou instrumentista, será obrigada a entrar nesta confraria e sua admissão será julgada pela Mesa”.

Grande catástrofe enluta a Bahia: na Ladeira do Taboão, terrível explosão em um depósito de pólvora leva pelos ares muitas casas, reduzindo a escombros um largo trecho, com muitas mortes e inúmeros feridos. Calcula- se em 40 o número de vítimas.

Não há mascarados; dos grandes clubes só o Fantoches desfila e, sintomaticamente, sai o bloco Os Companheiros do Silêncio.

O Jornal do Comércio do Rio de Janeiro publica correspondência de Roma onde assim descreve o monumento encomendado pelo estado da Bahia ao professor italiano Carlos Nicoli, de Carrara, Itália, para marcar papel da Bahia nas lutas da Independência, em 2 de julho de 1823: “Monumento de bronze e mármore com 25 metros de altura. No alto, estátua de índio a matar uma serpente que simboliza a tirania estrangeira. Abaixo, uma figura empunhando a bandeira nacional simboliza a Bahia, e outra, de uma índia, representa Catarina Paraguaçu com um escudo onde se lê INDEPENDÊNCIA OU MORTE. Há troféus de armas diversas e, nos lados, dois baixos relevos representam combates navais; nos ângulos, quatro leões representam outras batalhas. Atrás e à frente, surgem estátuas colossais, formando dois grupos que representam dois rios, o São Francisco e o Paraguaçu. No pedestal, as armas da República e as do estado da Bahia. Por tal complexidade, o monumento não poderá ser inaugurado antes do final de 1892, e custará 500 mil liras”.

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