Bahia de Todos os Fatos

...1889 - 1899...

Eleições adiadas em nome da pacificação do país

Governador:
Joaquim Manoel Rodrigues Lima
Presidentes da Assembleia Geral:
Joaquim Leal Ferreira
Luiz Viana
Cícero Dantas Martins
Presidente do Tribunal de Justiça:
Luís Viana

Prolonga-se a seca, dificultando a sobrevivência do sertanejo, obrigado a fugir para outros estados da Federação em busca da sobrevivência. Da cidade de Caetité chegam informações de que muitas pessoas, homens, mulheres e crianças, estão sendo atraídas para o estado de São Paulo com contratos de trabalho por tempo indeterminado, o que vem provocando o esvaziamento dos campos. É solicitada a intervenção do governador Rodrigues Lima.

O ex-governador José Gonçalves da Silva é convidado pelo presidente da República, Floriano Peixoto, para ocupar o Ministério das Relações Exteriores.

J.J. Seabra apresenta à Câmara de Deputados denúncia de irregularidades no governo de Floriano Peixoto, no que diz respeito à reforma de oficiais do Exército e Marinha, demissão de professores vitalícios, irregularidades na fusão dos Bancos do Brasil e da República, emissão de moeda, recrutamento forçado e intervenção indevida nos negócios peculiares do Rio Grande do Sul, requerendo seu impeachment. A Câmara rejeita, por maioria, a denúncia.

No Campo dos Mártires, acontece a incineração dos documentos “do elemento servil” (documentos ligados à escravidão dos negros) existentes nas repartições públicas. A medida já fora determinada por Rui Barbosa, quando ministro da Fazenda do governo provisório. Presentes ao ato o diretor do Arquivo Público, Frederico Lisboa, além de representantes de diversas associações.

Relatório do governador Rodrigues Lima indica a entrada de apenas 115 estrangeiros no estado da Bahia no ano de 1892, o que, na sua opinião, é relevante, pois “o desenvolvimento de um país tem de depender das suas próprias forças de produção, sem dependência de forças externas.”

No Regulamento do Ensino da Bahia, é acrescentado dispositivo segundo o qual, tão logo os recursos do estado o permitam, será criada uma universidade na capital do estado. Entretanto, em outro artigo (116), já fica garantida a possibilidade de auxílio oficial à iniciativa e esforços particulares na fundação de faculdades livres, desde que modeladas pela legislação federal e sujeitas à fiscalização oficial.

Sob clima de insatisfações e incertezas com relação ao futuro da República, eclode no Rio de Janeiro a Revolta da Armada, em 6 de setembro, contra o governo do marechal Floriano Peixoto, tendo como causas as rivalidades entre o Exército e a Marinha e ressentimentos por parte de Custódio de Mello, que se vira frustrado em seu objetivo de suceder Floriano na Presidência da República, e ao qual envia um ultimatum, divulgando, ao mesmo tempo, manifesto à nação. Deputados oposicionistas, entre eles J.J. Seabra, solidarizam-se com Custódio de Mello, embarcando no navio Aquidabã para aderir à revolta. Na Bahia, a revolta tem o repúdio da população e do governo, com alguns membros das forças militares propondo-se a organizar milícias que seriam encaminhadas ao Rio de Janeiro, em defesa da República. Em Salvador, os conflitos entre marinheiros, policiais e praças são constantes, provocando grande confusão na cidade, dificultando, inclusive, o livre trânsito da população.

A Bahia repudia a tentativa de prisão de Rui Barbosa por parte do governo federal, não acreditando em seu envolvimento com os revoltosos da Marinha. O povo vê na atitude a intenção visível de abalar a popularidade do político baiano.

O governador Rodrigues Lima analisa um projeto que prevê a mudança da capital do estado para a sua região central. Com esse objetivo, são realizados estudos topográficos na região de Utinga.

É concluído o primeiro orçamento do município de Salvador, marcando definitivamente a autonomia e a independência da cidade, demonstrando tal fato “os primeiros sinais da organização republicana”.

Os republicanos baianos festejam, com grande relevância, o fato de o estado já ter quitado grande parte da dívida contraída desde o início da República.

É regulamentada a cobrança do Imposto de Consumo do Fumo, que estabelece, também, a isenção para o fabrico em pequena escala, em residências, por conta própria ou que contem com até dois aprendizes, excluídos mulher, filhos e mais pessoas da família que vivam em comum e sob a mesma economia.

“Um dia Antônio Vicente,
Também Mendes Maciel,
Chegou ao sítio Canudos
Seguido de um tropel
De mais de duzentos homens,
Formando um grupo revel.
Dizia: ‘Em noventa e seis
Rebanhos mil surgirão.
Num retrocesso do mundo
A correr do mar virão
E o sertão vai virar mar
E o mar vai virar sertão’
É natural que p’ra lá
Convergisse tanta gente
De vilas e povoados
Mais remotos existentes;
Em busca do prometido
Surgiram os penitentes
De Inhambupe, Tucano,
Natuba, Massacará,
Monte Santo, Bom Conselho,
Jeremoabo, Uauá,
Itapicuru e Conde
Vinham de todo lugar.
Mas a Troia sertaneja
Assustava os fazendeiros
Que viam o seu exemplo
Como um câncer verdadeiro,
Ameaçar o sertão,
Conflagrando-o por inteiro.
A Igreja, por sua vez,
Aquilo também temia;
Achava que Conselheiro
Sua área invadia;
Pregar a religião
Só a ela competia.”
(José Guilherme da Cunha.
Canudos: a Luta)

Epidemia de varíola em Alagoinhas. O governo do estado desloca pessoal da Saúde Pública para a cidade, para o combate à doença.

Oficializa-se a separação entre o Estado e a Igreja. A Igreja católica deixa de ser a religião oficial do Brasil, estabelece-se a liberdade de culto. A República só reconhece o casamento civil, os cemitérios passam a ser administrados pelos municípios. Institui-se, também, o registro civil de
nascimentos e óbitos.

Depois de quase 30 anos de peregrinações pelo Nordeste, com prestígio cada vez mais crescente, chega ao sítio de Canudos o beato Antônio Vicente Mendes Maciel, Antônio Conselheiro, acompanhado de mais de duzentos homens, para implantar uma comunidade numa das regiões mais secas do país, cortada pelo rio Vaza-Barris, na região do Raso da Catarina. A comunidade cresce a ponto de transformar-se numa das maiores cidades do Nordeste brasileiro, com aproximadamente 25.000 habitantes.

Notícias procedentes da imprensa alemã dão conta da boa aceitação que tem o café baiano naquele país, levantando-se até mesmo a hipótese de uma possível concorrência com o café de São Paulo.

Inaugurado o novo Hospital da Misericórdia, no largo de Nazaré, em Salvador.

Funcionários da Fazenda oferecem a Rui Barbosa um álbum folheado a ouro e com ornamentos chineses, presente que fica exposto em loja da cidade para que o povo o aprecie. No entanto, na procissão do Senhor dos Passos, em Salvador, o sacerdote da igreja da Sé lança ataques a Rui, deixando constrangidos os fiéis que dela participam.

Rui Barbosa passa a ser o diretor político do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro.

Carnaval: a cidade está vivendo, praticamente, em função dos três dias de Momo que se aproximam, criando expectativas em cidadãos de todas as classes, “da negra que vende peixe ao fidalgo de puro sangue azul”. As donas de casa remexem a cesta de costura ou preparam as receitas para os saborosos quitutes; as mocinhas colocam papelotes nos cabelos; os meninos endiabrados preparam as máscaras para os sustos inevitáveis, todos prometem “colocar as manguinhas de fora” nos três dias de folia. O comércio vende bastante, sobretudo o de tecidos.

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