Governador:
Luiz Viana
Presidente da Assembleia Geral:
José Aquino Tanajura
Presidente do Tribunal de Justiça:
Manoel da Cunha Lopes Vasconcelos
O Legislativo aprova projeto de lei do deputado Lélis Piedade para emancipação de Jequié, então distrito de Maracás. O projeto foi apresentado pelo parlamentar atendendo às solicitações de Lindolfo Rocha, mineiro, mas jequiense dos primeiros momentos, nome importante na história do município.
A imprensa vem alertando “da fraqueza dos governos republicanos” e cobrando providências contra o crescimento de Antônio Conselheiro.
Circula em Salvador um boato segundo o qual a intenção do governo do estado é a de capturar Antônio Conselheiro vivo, para expô-lo publicamente, e, posteriormente, recolhê-lo ao asilo São João de Deus.
Ao tomar conhecimento da derrota da primeira expedição de combate ao Conselheiro, o governador Luiz Viana prepara, de imediato, uma segunda investida. Esta nova expedição, composta de 561 homens e comandada pelo major Febrônio de Brito, parte de Monte Santo em 12 de janeiro. Após diversos combates, com algumas vitórias e outras tantas derrotas e inúmeras baixas, a tropa é obrigada a um recuo lento, penoso e trágico.
Após as duas derrotas infligidas pelo Conselheiro às forças estaduais, a imprensa baiana passa a instigar o governo a solicitar o apoio de tropas federais, sob a alegação de que a incompetência das forças do estado põe em risco a própria ordem republicana.
Em carta enviada à imprensa baiana, o major Febrônio de Brito narra a sua derrota no sertão da Bahia ante as forças do Conselheiro, ao tempo em que reforça a necessidade da interferência federal no estado, em função do crescimento de Canudos que supõe contar com 8 mil pessoas, enquanto o governo do estado estimara em 500 os seguidores do Conselheiro.
O governo federal resolve intervir no conflito e se mobiliza contra Canudos, enviando para Salvador o 7º Batalhão de Infantaria, composto de 460 praças e 10 oficiais, além de 59 praças e quatro oficiais do 2º Regimento de Artilharia e 60 praças e sete oficiais do 9º Regimento, juntamente com três médicos. A esses se somariam forças do estado. Cria-se grande expectativa em torno dessa expedição, que reúne um total de 1.281 soldados, sob o comando do coronel Moreira César. Em 21 de fevereiro, a tropa desloca-se de Monte Santo em direção a Canudos.
Moreira César não é um desconhecido para os baianos. Logo após a Proclamação da República, destacou-se pela afinidade ao grupo político do marechal Floriano Peixoto. Quando o “Marechal de Ferro” assumiu a Presidência da República, em 23 de novembro de 1891, após a renúncia de Deodoro da Fonseca, Moreira César foi o chefe de polícia de Salvador. Com a República, ele foi promovido três vezes em três anos. Sua nomeação como comandante da terceira expedição deve-se a Manoel Vitorino, vice-presidente da República, no exercício da Presidência em virtude do afastamento de Prudente de Moraes, em licença para tratamento de saúde. Tudo indica que Vitorino desejava se manter na Presidência e a nomeação de Moreira César objetivava fortalecer a corrente florianista no Exército, que tinha poucos nomes expressivos na alta oficialidade. A derrota dos conselheiristas, tida como certa, traria a glória a Manoel Vitorino e Moreira César, transformando-os em “baluartes” da República. O sonho terminou às margens do Vaza Barris.
O jornal Diário da Bahia divulga carta atribuída a uma “ovelha do rebanho” de Antônio Conselheiro, na verdade uma mãe de Canudos escrevendo a um filho em Salvador, cuja assinatura é omitida:
“Belo Monte, 5 de dezembro de 1896
Louvado seja Nosso Senhor Christo –
Meu filho, é chegada a ocasião da salvação de nossas almas;
portanto, v. venha já e já, que o tempo está por findar-se.
Se votou com os republicanos, traga seu título para o pai Conselheiro
rasgar e queimar. Espero v. já como sem falta.
De tua mãe, …”
Notícias que chegam de Monte Santo dão conta da derrota sofrida pelos batalhões do coronel Moreira César, que é gravemente ferido quando, ao ver os seus soldados recuarem em desordem, numa investida contra Canudos, lança-se à frente da tropa, exclamando “eu vou dar brio àquela gente.!”. No mesmo dia, morre também em combate o seu substituto, o coronel Tamarindo. A expedição de Moreira César resulta em trágico fracasso, com enormes perdas de vidas humanas.
A guerra em Canudos, em que pese a sua face trágica, encontra tradução na irreverência carnavalesca dos baianos. Assim, é que um clube carnavalesco se apresenta como Fanáticos de Antônio Conselheiro.
No contexto do Carnaval, um bloco identificado como o Batalhão Frei Caneca desfila pelas ruas de Salvador, com os foliões fantasiados de soldados, trajando verde e amarelo, enfatizando a Guerra de Canudos.
Com a morte do coronel Moreira César, os efeitos da derrota oficial em Canudos começam a se manifestar. No Rio de Janeiro, o coronel Gentil de Castro é assassinado a tiros no Largo de São Francisco; órgãos da imprensa carioca declaradamente monarquistas são depredados; as repartições públicas da Bahia são fechadas, com a bandeira nacional hasteada a meio pau, assim como nas empresas privadas.
Os relatos ligados a Canudos que chegam às populações urbanas do país, sobretudo da Bahia, dão conta de que a vida que levam os conselheiristas é agradável; há plantações de cereais diversos; durante os combates, crianças e mulheres lutam junto aos homens; quanto mais feridos, mais força demonstram. Os soldados que conseguem adentrar o arraial admiram-se da sua dimensão, considerando-o maior que a cidade de Alagoinhas, comportando cerca de 2.500 a 3.000 casas.
O deputado César Zama responsabiliza o governador Luiz Viana e o senador federal e vice-presidente da República Manoel Vitorino pelo crescimento de Antônio Conselheiro no sertão da Bahia, criticando-os ainda por haverem permitido a intervenção federal nos assuntos ligados a Canudos.
“O batalhão patriótico
de combatentes sanhudos
vae pressuroso marchando
até chegar aos Canudos.
Tremei, audaz Conselheiro,
ante o reforço potente
que vae tirar-te os Canudos,
vae destroçar tua gente.
P’ra dirigir-nos na luta
há muitos officiaes:
no livro da pátria história
‘stao seus nomes immortaes.
Cada um dos nossos bravos,
tão valente quanto matreiro,
há de livrar a Bahia
do maluco aventureiro.
Se o pilhar ainda vivo
o lynchará sem demora
nosso bravo comandante
general X. K. Hipora.
E se correres, fanático,
te seguiremos à cata
p’ra dar cumprimento à senha,
não se prende, só se mata.
Nossa gente não faz graça
p’ra matar quem merecer
Conselheiro, toma tento,
tua hora vae bater!
Desta vez, se vires bóia
há de ser por um canudo…
com canecas não se brinca,
havemos de arrasar tudo!”
(Diário da Bahia 06/03/1897)
A Guerra de Canudos ultrapassa as fronteiras. Em Londres, a imprensa registra a derrota do governo brasileiro nos confrontos, alertando para os desgastes que sofre a República.
É inaugurada linha telefônica entre Queimadas e Monte Santo, o que facilitará a comunicação da nova expedição a Canudos.
É enviada nova expedição (a quarta) a Canudos, integrada por três generais e diversos coronéis, majores, capitães, tenentes e 4.500 soldados. O presidente Prudente de Moraes nomeia para o comando o general Artur Oscar. As tropas são divididas em duas colunas, comandadas pelos generais João da Silva Barbosa e Cláudio do Amaral Savaget. Os combates sucedem- se a partir de 25 de junho. A despeito de todo o poderio da expedição, torna-se necessário o envio de reforços, destacando-se para o front a brigada Girard, com 1.110 homens, que parte de Monte Santo em 10 de agosto.
O general Barbosa emite telegrama para a imprensa baiana, no seguinte teor: “Monte Santo 7 – Sitiamos Canudos. Vitória certa. Jagunços desmoralizados. Viva a República. Saudações. General Barbosa”.
A Faculdade de Medicina destaca parte do seu pessoal em formação para atender às vítimas de Canudos. Chegam a Salvador os primeiros 400 feridos do interior. Por conta dessa movimentação do pessoal docente e discente da faculdade, as aulas são suspensas até o fim dos combates.
Notícias do front indicam uma situação desconfortável para as tropas do Exército no sertão da Bahia. Encontram-se combalidas, sem víveres, e enfrentando o fogo cruzado dos conselheiristas, que resistem.
Torna-se necessário o envio de mais uma expedição ao arraial de Canudos, a quinta e última. Esta tem no comando o próprio secretário de Estado dos Negócios de Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt, que chefia uma tropa de 2.614 soldados e 300 oficiais. Em sua companhia, encontra-se Euclides da Cunha, incumbido de “estudar as condições geológicas do terreno de Canudos e escrever um livro sobre a atual guerra em que, naquela localidade, se empenha o Exército nacional contra o fanatismo.” O trabalho dos dois pode ser resumido desta forma: enquanto Euclides vem relatar a guerra, o general tentará lhe dar o término desejado.
Em Salvador, a estrutura hospitalar existente não comporta o número de vítimas procedentes da Guerra de Canudos. A situação das enfermarias é de calamidade, devido à falta de higiene e mesmo de água, além do reduzido número de médicos.
Euclides da Cunha começa a fazer importantes comunicações. Cita, por exemplo, um estudo encomendado pelo Império, em 1882, na província da Bahia, escrito por Dorval Vieira de Aguiar, o qual relata a existência de um “conselheiro” em Monte Santo, que morava sozinho, cercado por beatas que lhe ofereciam comida e toda ajuda possível, e já visto como um fanático; em conversa com pessoas mais antigas de Queimadas, ficara sabendo do início das romarias para Canudos: gente vinda de Mundo Novo, Entre Rios, Inhambupe, Tucano e Cumbe para lá se dirigia carregando santos, cruzes e sempre cantando ladainhas.
“Morera Sezar i Thamarinho
eram os 2 vensidores
qe viam ao Bello Monte
como raios abrasadores
mais ozurubú comeo
estes cabra matadores
Us pobre dos soldadinho
Si viram tão avechado
mi ti ansi na catinga.
Curriam que só viado”
ABCS recolhidos por Euclides da Cunha
Euclides da Cunha foi a única testemunha da Guerra de Canudos a considerar a contribuição do menestrel anônimo para a interpretação dos sentimentos populares. Em referência ao episódio de Canudos, “podemos também apontá-lo como um dos primeiros ensaístas brasileiros a julgar válidas as fontes orais, para elaboração da história dos povos”. (José Calasans, 1984:2)
A opinião pública do Brasil externa o seu pavor ante o drama de Canudos. Causa perplexidade e admiração “como um bando de fanáticos pode desmoralizar o Exército brasileiro com tanta facilidade.”
A coluna do general Savaget, que fazia parte da expedição a Canudos, é atacada pelos jagunços na antiga fazenda de Cocorobó, a duas léguas daquele arraial. O combate, com artilharia e baionetas, dura várias horas, provocando muitas baixas.
Anunciada a morte de Antônio Conselheiro, em 22 de setembro. Seu cadáver é encontrado no santuário da igreja. Em 6 de outubro, o cadáver é exumado e fotografado por Flávio de Barros. A cabeça é cortada e enviada para Salvador, onde fica exposta na Faculdade de Medicina.
Relato de Euclides da Cunha, na sua obra Os Sertões: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais reagiam raivosamente cinco mil soldados”.
Com o fim da guerra, são feitos muitos prisioneiros, que as tropas do governo tratam de eliminar. Muitos foram fuzilados, mas outra forma de execução muito utilizada pelos soldados foi a degola, ou gravata vermelha. Esta era uma técnica já praticada nas guerras civis do sul do país.
A Bahia comemora efusivamente o fim da Guerra de Canudos. Feira de Santana se mobiliza para saudar as forças federais que regressam vitoriosas. Salvador é uma festa só: a imprensa não mede palavras para elogiar os vencedores. Dos estudantes aos soldados, o povo vai às ruas; os prédios ostentam mensagens; celebra-se missa pelos mortos.
É muito festejada a chegada a Salvador do general Oscar Arthur Rios, pela sua atuação em Canudos. Ele, que algum tempo atrás sofrera críticas, agora é considerado herói.
Ainda colhendo os louros da vitória de Canudos, a população brasileira é sacudida por uma tragédia nos festejos no Rio de Janeiro: a tentativa de assassinato contra o presidente da República, Prudente de Morais, pelo soldado Marcelino Bispo, que combateu em Canudos. No
atentado, é atingido mortalmente o ministro da Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt.
“Ô, Canudos, país da promissão
Foi injusta e cruel a tua guerra
Tu eras abrigo dos sem terra
Sem direito, justiça, paz e pão
O fanático era apenas um irmão
O jagunço somente um companheiro
Encontrando no mestre o paradeiro
Confiança família e hospedagem
A história…
Foi a luta da foice e do fuzil
O facão enfrentando artilharia
Uma nódoa no nome da Bahia
Uma mancha na honra do Brasil
Mas talvez que no ano 2000
Esse grande Nordeste brasileiro
Seja outro Canudos por inteiro
Com mais gente, mais arma e coragem
A história fará sua homenagem à figura de
Antônio Conselheiro.
(Ivanildo Vila Nova)
Conselheiro morreu em 22 de setembro de 1897. Quando acabou a guerra em outubro, seu corpo foi exumado, fotografado e degolado.
O inventário da Guerra de Canudos revela um quadro estarrecedor: o número de vítimas foi o maior já registrado pelo Exército brasileiro em todos os confrontos em que se envolveu. Oficialmente, foram 30.000 mortos, sendo 25.000 conselheiristas e 5.000 soldados.

Conselheiro morreu em 22 de setembro de 1897. Quando acabou a guerra em outubro, seu corpo foi exumado, fotografado e degolado.
A imprensa baiana apoia o estado de sítio decretado pelo presidente Prudente de Morais, sob a alegação de “manutenção da ordem que esteve ameaçada e necessidade de reorganizar as estruturas do governo”.
A imprensa noticia que os navios que zarpam do Porto de Salvador são impedidos de ancorar em outros portos, em virtude de o governo português alardear que o nosso porto está contaminado pela febre amarela.
Merece registro na imprensa, pelo seu pioneirismo no estado, a escola inaugurada pelo industrial Luiz Tarquínio, na Vila Operária, onde residem os empregados da sua fábrica.
Alguns casos de febre amarela são detectados em Salvador, notadamente no Canela e nos Barris. Curiosamente, a colônia inglesa é duramente atacada pela doença, registrando-se já 19 óbitos.
Já é muito criticado o sistema de iluminação a gás de Salvador, pelo custo e pela ineficiência. São buscadas novas alternativas, de modo a conseguir-se um meio mais eficiente de iluminação pública.
Uma epidemia de varíola assola Salvador, com vítimas fatais. A situação é tão vexatória que até o enterro dos corpos já é problema, por falta de terreno para isolá-los. Também do interior já chega o alarme da doença: da cidade de Valença, de Serrinha, de Juazeiro. Até em Canudos foram registrados alguns casos da doença na tropa. O trem que vai até Juazeiro seria o condutor da epidemia, e a população pede providências aos serviços de higiene pública da capital. Salvador, por sua vez, com muito lixo acumulado e as deficiências educacionais da população, que tem profundo descaso por medidas de higiene, é o habitat indicado para a proliferação da doença. O problema é ainda agravado com a chegada dos feridos da guerra, quando fica comprovada a falta de infraestrutura hospitalar na cidade.
O jogo do bicho vem sendo criticado pela imprensa, que exige providências por parte das autoridades.
Critica-se também o sistema de transportes de Salvador, com os bondes em péssimo estado de conservação e registro de muitos acidentes.
Professores do interior, notadamente da Vila de São Francisco, reclamam pela imprensa contra o atraso no pagamento dos seus salários, que chega a sete meses, fato que vem ocorrendo em muitos municípios da Bahia. Aproveitando a matéria, discute-se a questão do crescimento do funcionalismo público, que começa a comprometer as despesas do estado.