Bahia de Todos os Fatos

...1910 - 1919...

A cidade de Salvador é bombardeada

Governadores:
Aurélio Rodrigues Viana
Bráulio Xavier da Silva Pereira
Presidente da Assembleia Geral:
Manoel Leôncio Galvão
Antônio Bulcão
Presidente do Tribunal de Justiça:
Bráulio Xavier da Silva Pereira

Com a renúncia do governador Araújo Pinho, o presidente do Senado, Cônego Galvão, seu substituto legal, alegando motivo de saúde, recusa-se a assumir o cargo. Aurélio Viana, presidente da Câmara dos Deputados, é quem o assume e, de imediato, convoca a Assembleia Geral do estado a se reunir em sessão extraordinária em 15 de janeiro, na cidade de Jequié, por ser uma cidade de difícil acesso, precavendo-se, no caso, de uma intervenção federal. A pretensão maior é fixar a data das eleições, que fora adiada, e, também, eliminar a candidatura de Seabra ao governo do estado, que conta como apoio do Exército, contra os governistas.

Governador Bráulio Xavier da Silva Pereira

 

O senador estadual Cônego Galvão é afastado do cargo de presidente do Senado. O vice-presidente, barão de São Francisco, lança manifesto efetivando-se no cargo. Convoca, também, a Assembleia Geral do estado para 15 de janeiro, no prédio do Conselho Municipal da cidade do Salvador, para deliberações frente à renúncia do governador Araújo Pinho e o que vier a ocorrer. A sede da Assembleia é tomada pela Polícia Estadual e jagunços, a mando dos governistas. Os seabristas obtêm liminarmente a manutenção da posse, concedida pelo juiz federal Paulo Fontes, para que a Assembleia se reúna no local de costume.

A Câmara dos Deputados não se dá por vencida e obtém do juiz da Vara Cível de Salvador um mandado de manutenção de posse no edifício-sede da Assembleia, provocando conflito de jurisdição perante o Supremo Tribunal Federal. O juiz Paulo Fontes concede habeas corpus requerido pelos seabristas, permitindo que a oposição se reúna na sede da Assembleia, e comunica o fato ao governador interino Aurélio Viana. O governador desobedece a ordem e não retira suas tropas do edifício da Assembleia Geral. O desacato é comunicado ao presidente da República, marechal Hermes da Fonseca, que ordena ao general Sotero de Menezes, comandante do Distrito Militar da Bahia, um veterano da Guerra de Canudos, garantir a decisão judicial.

A 10 de janeiro, o general Sotero de Menezes abre fogo com tiros de canhão dos fortes de São Marcelo e Barbalho, dando início ao conflito, e os danos causados são muitos: destruição de metade do Palácio Rio Branco, incêndio da Biblioteca Estadual, destruição do Teatro São João, da Câmara Municipal, do Palácio do Arcebispado, da igreja da Sé, com muitos mortos e feridos.

O ato de força leva o governador Aurélio Viana a renunciar, sendo reconduzido ao cargo dias depois, por interferência do ministro da Justiça, com garantias do general Sotero de Menezes, que recebe ordens do presidente da República para assim proceder. A situação torna-se insustentável, os conflitos de rua são constantes. Os seabristas promovem manifestações populares e dirigem-se ao palácio, forçando nova renúncia do governador, que se refugia no Consulado Francês, enquanto o presidente do Tribunal de Apelação e Revista, Bráulio Xavier, substituto legal na cadeia sucessória, assume o cargo.

Continuam chegando à Bahia forças do Exército Nacional com o propósito de garantir a ordem estabelecida, sob a forma de intervencionismo federal. Os fortes se amontoam de armas pesadas e modernas, as cavalarias se alinham e a esquadra naval fica de prontidão. Apesar da demonstração de forças do Exército, a população baiana se mantém tranquila; o comércio, em pleno funcionamento; e a política, fluindo normalmente.

Paisagens urbanas, Salvador. Bairro da Barra e Amaralina.

Paisagens urbanas, Salvador. Bairro da Barra e Amaralina.


“Que rua estreita
Para se passar
Corra, meu bem,
Olha o generá
Estava no terreiro
Quando veio uma balada
Eu dei uma carreira
Fui parar lá na Calçada
Corre, corre, minha gente,
Corre com toda arrelia
Pois vem chegando o 5º
e o 6° de artilharia
O dia 10 de janeiro
Foi um dia de arrelia
De tanto o povo correr
a praça ficou vazia

(Versos cantados na alusivos ao bombardeio da cidade)

São realizadas as eleições e J.J. Seabra, candidato único, é eleito e proclamado governador da Bahia aos 56 anos de idade, assumindo o cargo a 29 de março.

Em mensagem dirigida à Assembleia Geral do estado, Seabra delineia como será o seu governo: “É minha vontade que, sob o regime de paz e de bem entendida tolerância, se acatem, dentro da lei, todas as opiniões; se devo governar com meus amigos, administrarei com todos, atendendo ao direito onde encontrar.”

J.J. Seabra é acusado de mandar capatazes saquearem e destruírem os arquivos do jornal Diário da Bahia, danificando suas instalações.

A Repartição Federal de Obras Contra a Seca perfura poços artesianos com a montagem de moinhos de vento, nos municípios de Aracy, Serrinha, Bonfim e Feira de Santana.

O Serviço Sanitário Estadual obriga os proprietários de hotéis e pensões de Salvador ao uso de mosquiteiros em todos as camas de suas hospedarias, ficando sujeito a punições o não cumprimento da determinação.
O Centro Operário da Bahia participa do Congresso Operário Brasileiro, realizado na capital da República.

Iniciam-se as obras de remodelação da cidade do Salvador. O governo do estado, por meio de decreto, ordena a construção do Palácio do Congresso, vizinho ao Palácio Rio Branco. Serão instalados em seu primeiro andar o Arquivo Público e a Biblioteca do estado, de modo que, situado na Praça Rio Branco, fique em harmonia com o Paço Municipal.

É vista com indignação a atitude de J.J. Seabra, que solicita ao ministro da Guerra autorização para a demolição do Forte de São Pedro, em Salvador, para, em seu lugar, construir um quartel modelo por conta do estado. A autorização lhe é concedida com o aval do marechal Hermes da Fonseca.

O Executivo municipal baixa ato para organizar o cais do porto, onde proíbe a criação de galinhas e a utilização de varal para estender roupas.

A Igreja católica solicita ao Executivo municipal medidas de organização do largo da Igreja do Bonfim, acabando com o pastoreio de animais.

De acordo com edital publicado pela intendência do município de Salvador, o pão, independentemente da forma, deverá pesar no mínimo 60 gramas, crescendo na razão dos múltiplos de 60 gramas, cabendo ao consumidor fiscalizar e comunicar aos agentes municipais os casos de inobservância desses dispositivos pelas padarias, as quais serão punidas com multas. Assim, também o transporte de pão deverá ser feito em caixas de flandres ou cestos de vime, conforme indicado pela Higiene Municipal.

O município de Salvador cria a Guarda Municipal, que lhe assegura o cumprimento das leis. Enquanto isso, os salários dos servidores atrasam e os serviços de limpeza pública, considerados de extrema urgência, são  deixados de lado.

Começa a venda e a distribuição de gelo em Salvador, com o serviço executado através de carroças.

Cria-se a primeira escola de pesca da Bahia, onde se ensina a fabricação dos utensílios da pesca, corte e costura de velas, fabricação de redes e técnicas de pescaria.

Circula em outubro a primeira edição do jornal vespertino A Tardetendo como diretor o jornalista Ernesto Simões Filho.

Ocorrem constantemente atropelos de pessoas provocados pelos bondes, na maioria das vezes levando as vítimas à morte. A população, revoltada, tenta incendiar veículos em protesto.

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