Bahia de Todos os Fatos

...1910 - 1919...

Governador Áraujo Pinho renuncia

Governadores:
João Ferreira de Araújo Pinho
Aurélio Rodrigues Viana
Presidente da Assembleia Geral:
Manoel Leôncio Galvão
Presidente do Tribunal de Justiça:
Bráulio Xavier da Silva Pereira

Na ocasião da abertura da Assembleia Geral do estado, a imprensa dá as boas-vindas ao novo Legislativo, esperando que este presida a ordem, mostre interesse pelo bem público e demonstre, na prática, o patriotismo e o ardente desejo de bem servir à Bahia.

J.J. Seabra é candidato ao governo da Bahia, concorrendo com Domingos Guimarães, candidato lançado por Severino Vieira, com o apoio de Araújo Pinho e de José Marcelino.

Rui Barbosa publica manifesto sugerindo a incompatibilidade da candidatura de Seabra ao governo do estado, visto que há muitos anos não reside na Bahia. As forças oposicionistas crescem na tentativa de impedir a candidatura de Seabra, com base na tese de inelegibilidade apresentada por Rui Barbosa.

O marechal Hermes da Fonseca visita a Bahia por cinco dias, usando como pretexto as comemorações do centenário da Associação Comercial da Bahia, mas, na verdade, objetivando prestigiar seu ministro da Viação, J.J. Seabra. A cidade está em rebuliço, as casas localizadas no trajeto do cortejo foram pintadas por seus proprietários, tudo como forma de homenagear o visitante.

É aprovado no Senado Estadual projeto de lei (cuja constitucionalidade é questionada), apresentado pelo senador Wenceslau Guimarães, situacionista, na tentativa de impedir a candidatura de J.J. Seabra ao governo do estado, por estar ocupando um cargo público.

“Anda agora todo curvo
Lambendo os pés do Pinheiro
Todo agachado no canto
Seabra bandoleiro
Outro dia se dobrando
Ficou todo avermelhado
Como se fora pimenta
A careca escalavrada”

(Juca Jucá, Diário da Bahia, Sátira a J.J. Seabra, ligando-o ao poderoso chefe político gaúcho Pinheiro Machado, conselheiro do marechal Hermes da Fonseca)

J.J. Seabra tem plena convicção de que vencerá nas urnas, porém o grande impasse é o reconhecimento pelo poder verificador do Senado e da Câmara Estadual, onde os severinistas e marcelinistas mantêm maioria. Alimenta sua esperança na política “salvacionista” do governo federal intervindo no estado, para Ihe garantir uma vitória que venha a adquirir nas urnas.

Governador Aurélio Rodrigues Viana

 

O jornal O Povo, do município de Castro Alves, realiza rifa de voto e anuncia como será o sorteio: “Eleitores, para concorrerem a um relógio e a uma baixela, basta fazer constar seu nome em adesão a J.J. Seabra, num livro de registro na portaria do jornal”.

O governador do Araújo Pinho importa da França uma máquina denominada “psephographo”, para contagem de votos, na tentativa de acabar com as dúvidas e controvérsias. Ao colocar as fichas com fotos ou nomes dos candidatos na máquina, ela vai contabilizando os votos imediatamente.

São realizadas eleições para a intendência de Salvador. Os dois candidatos – Júlio Brandão, apoiado por Seabra, e João Santos, apoiado por Araújo Pinho – consideram-se vitoriosos. Júlio Brandão solicita tropas federais para garantir-lhe a posse, mas o presidente Hermes da Fonseca não autoriza. O juiz responsável requisita reforço policial, a apuração das eleições é tensa. O Conselho Municipal realiza a primeira sessão preparatória, não chegando a nenhum acordo quanto à composição da Mesa.

Funcionários públicos municipais protestam contra as melhorias da Praça do Ouro, uma vez que seus salários estão atrasados em seis meses. Alegam que a intendência não paga ao funcionalismo e gasta dinheiro reformando praças.

Registra a imprensa que o ensino primário no estado se encontra em situação deplorável, vítima de politicagem estéril, exigindo-se dos poderes públicos o olhar fiscalizador, pelo futuro das crianças.

Araújo Pinho renuncia ao governo do estado alegando problemas de saúde, mas a razão, na verdade, é por não aceitar as interferências, em seu governo, de José Marcelino e Rui Barbosa. Faltando apenas três meses para a conclusão do mandato, a sua renúncia abre caminho à crise
política na Bahia, culminando com a intervenção federal e o bombardeio da cidade no ano seguinte.

A cidade de Queimadas, no sertão baiano, é inundada com a grande enchente do rio Itapicuru.

Mar Grande está sendo devastada com a extração de uma areia grossa (cascalho) utilizada na fabricação de cal. Os proprietários e habitantes daquelas pitorescas praias recorrem às autoridades competentes, para impedir o abuso delituoso das escavações e completo arruinamento do local.

Jagunços e malfeitores invadem Ituaçu, saqueando o comércio e amedrontando a população. O juiz de direito da comarca de Maracás solicita ao governo do estado providências para restabelecer a tranquilidade na região.

Os moradores dos bairros da Soledade e Lapinha, na cidade de Salvador, reclamam da presença de bois, cabras e cavalos soltos nas praças e solicitam a intervenção da intendência.

O Rio Vermelho, em Salvador, brilha com 2.016 lâmpadas elétricas para as comemorações da festa de Santana.

O Teatro São João, que tantas glórias deu à Bahia, luta por uma reforma urgente, pois suas instalações se encontram depredadas. A Bahia não tem uma sala de espetáculos condizente com suas tradições. 

O Consulado Espanhol divulga o censo dos espanhóis residentes na Bahia: 1.105 na capital, estimando-se 895 no interior, totalizando 2.000.

Empresários e governo da Bahia expõem produtos nesta capital, já se preparando para uma grande feira de que participarão em Turim, na Itália. O governo do estado contrata uma reprodução cinematográfica dos principais pontos de Salvador e do interior, notadamente os seus campos de cultura, para serem exibidos naquela exposição.
Declara-se a falência do Banco Comercial da Bahia.
Comemora-se o centenário da imprensa baiana, cuja primeira página impressa saiu no jornal Idade D’Ouro.

A mudança de nome da rua Dr. José Marcelino, ex-governador da Bahia, em Salvador, para rua da Vitória, gera protestos dos moradores que não aceitam a troca do nome e quebram o mármore de identificação da rua.

Enchente do rio Paraguaçu castiga os municípios de Cachoeira e São Félix, e as autoridades locais solicitam ajuda do estado.

A Faculdade de Medicina reorganiza a Revista de Cursos, onde serão publicados os trabalhos científicos do corpo docente, demonstrando-se o desenvolvimento do ensino e dos estudos médicos na Bahia.

É exibido no circuito comercial o filme A segundafeira da Ribeira, realizado por Lindemann.

Surgem mais três casas de projeção de filmes: o Cinema Jandaia, na Baixa dos Sapateiros, o Cinema Rio Branco, na Praça 15 de Novembro, e o Cinema Avenida, no Rio Vermelho.

É publicado edital de concorrência pública para arrendamento e exploração do barro refratário descoberto no Retiro, em Salvador.

Apesar de proibidas, continuam as pescas com explosivos na enseada de Itapagipe, o que, além de dizimar os cardumes, prejudica as obras do porto.

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