Bahia de Todos os Fatos

...1910 - 1919...

Funcionalismo do estado vive crise de penúria e fome

Governador:
José Joaquim Seabra
Presidentes da Assembleia Geral:
Eugênio Gonçalves Tourinho
Frederico Costa
Presidente do Tribunal de Justiça:
Bráulio Xavier da Silva Pereira

São criados os municípios de Boninal e Wagner.
A deflagração da guerra no ano anterior atinge em cheio a economia mundial e a imprensa americana critica os esforços que alguns países vêm desenvolvendo com vistas a uma moratória da dívida externa, entre eles o Brasil.

O Diário da Bahia denuncia que, enquanto os servidores do estado têm seus vencimentos atrasados por vários meses, e vivem uma crise de penúria, de fome e de miséria, o governador J.J. Seabra remodela a cidade
do Salvador. O episódio narrado adiante é bem o símbolo da humilhante
situação dos funcionários baianos: um professor de Lençóis, que há dezoito meses não recebia seus vencimentos, caminhou 91 léguas a pé com a família, numa trajetória de penúria e tragédias. Na cidade de Cachoeira, tomou vapor até Salvador e conseguiu ser recebido pelo governador. O seu infortúnio e as suas lágrimas comovem o próprio Seabra, que se dispõe a pagar, apenas, oito meses de seus vencimentos, dos dezoito atrasados.

São muitas as reclamações contra o mau serviço prestado pelo Departamento de Fornecimento de Água, pelos usuários que se veem obrigados ao pagamento de pesadas taxas em qualquer conserto solicitado, sob a alegação de que não está previsto em lei a gratuidade de tais serviços. O consumidor, entretanto, contesta, achando-se no direito de exigir os reparos, uma vez que paga pelo fornecimento de água.

Soldados da polícia, impelidos pela fome, rebelam-se e protestam de modo pacífico, a fim de receberem do governo o que lhes é devido, resultando na detenção de alguns praças, que são recolhidos ao Quartel dos Aflitos, incomunicáveis, sujeitos a maus tratos.

Também o Corpo de Bombeiros protesta. Alguns soldados reivindicam o pagamento de seus vencimentos atrasados, alegando encontrarem-se passando fome A represália não tarda, resultando na exclusão de alguns e detenção em quartel de outros.

O Diário da Bahia continua suas denúncias contra o governo Seabra, acusando-o de uma série de irregularidades e de maus exemplos no terreno da moralidade. Segundo o jornal, foram consumidos em menos de três anos todos os recursos do Tesouro, “o suor do povo foi transformado em obras públicas para lucro de fornecedores, empreiteiros e contratantes. Milhares de contos estão enterrados em obras paralisadas e contratadas sem concorrência”. Entre as muitas obras do governo, encontra-se a reforma do Palácio Rio Branco, denominado na imprensa “O Palácio Encantado”, em razão das altas cifras consumidas na obra. Outra crítica movida pelo Diário refere-se aos títulos de crédito emitidos pelo governo para dar continuidade às obras da avenida Sete de Setembro.

Anúncio da época

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Sentindo-se injustiçado diante de tantas críticas ao seu governo feitas pelo Diário da Bahia, Seabra dirige ofício àquele órgão de imprensa, que o publica, não sem antes criticar o emitente, dando à matéria o título de “Arreganhos de D. Quixote”. 

Mas a população toma conhecimento do ofício: “Fazer oposição é um direito incontestável e digno de respeito. Mas desviarem a oposição da trilha digna que deve seguir, para se transformar em pelourinho da honra de homens honrados e, pela mentira, pela calúnia, por toda a sorte de infâmias, afrontar os brios e a dignidade da Bahia, não lhes será permitido que continuem a praticar, custe o que custar, sejam quais forem as consequências”.

O deputado federal Eugênio Tourinho, ao ser questionado sobre a sucessão governamental na Bahia, declara: “Não sou candidato, basta-me a cadeira de deputado, que me permite gozar o Rio. (…)
Seria de muito mau gosto eu me privar de todos os encantos do Rio para me prender na Bahia”.

A Assembleia Geral do estado reformula a Lei Orgânicados Municípios, determinando ser de livre escolha do governador do estado o preenchimento dos cargos de intendente municipal, com mandato de 4 anos demissível “ad-nutum” do governador, abolindo, assim, a eleição direta. A nova lei vem fortalecer o poder de Seabra, que chega a nomear grande parte dos intendentes dos 141 municípios do estado da Bahia.

Aproxima-se a sucessão governamental. A oposição encontra-se desarticulada e não apresenta candidato. A oposição a Seabra faz-se dentro do próprio PRD, em que cada corrente lança seu candidato próprio. No entanto, Seabra impõe a candidatura Antônio Moniz e, contando com grande parte dos intendentes municipais nomeados por ele e sem oposição partidária, elege seu sucessor facilmente, apesar do elevado número de abstenções.

Salvador está abandonada. Contribuintes fazem lista, solicitando ao intendente do município a realização da limpeza da cidade, que tem causado má impressão naqueles que nos visitam, com lixo se acumulando por toda parte.

Luz! Luz! Protesto contra as trevas. Munida de lanternas, a população de Salvador sai às ruas, pedindo “luz! luz!” – protesto contra a falta de iluminação em várias ruas.

O coronel João Azevedo Fernandes, intendente do município de Salvador, baixa portaria dispensando todos os funcionários nomeados pelo intendente Júlio Brandão, cujas nomeações não foram aprovadas pelo Conselho.

O Conselho Municipal decreta a criação de matrícula geral dos serviços domésticos nesta capital: cozinheiros, copeiros, lavadeiras, engomadeiras, jardineiros, hoteleiros e amas de leite.

J.J. Seabra nomeia Antônio Pacheco Mendes intendente da cidade do Salvador. No entanto, o coronel João Azevedo Fernandes, intendente interino que ocupava o cargo, baseando-se na Constituição do estado, resolve não mandar fazer o registro da nomeação, impugnando o ato do governador e recorrendo, na forma da Lei e do Direito, ao Poder Judiciário. Mesmo impugnada a nomeação, Antônio Pacheco Mendes é empossado no cargo de intendente, no Palácio Rio Branco, e conduzido ao edifício do Paço Municipal pelo chefe de polícia.

O município de Itabuna protesta indignado com a nomeação, pelo governador do estado, de seu intendente José Kruschewsky, indicado por Arlindo Leoni, por efeito da reforma da Lei Orgânica dos Municípios: “Itabuna não mais suporta a oligarquia Arlindo Leoni; esta terra tem direito ao respeito e consideração. Abaixo a politicagem e imposição de Leoni. Trabalhemos unidos pela independência deste município, que tem o seu candidato popular. Não nos curvemos mais à política desse deputado, que, sem interesse nesta terra, sem ideias, sem programa definido, tenta, contra a vontade popular, impor-nos um intendente. Às armas e à revolução. Viva a vitória! Viva a independência de Itabuna! […]”.

A peste bubônica e a febre amarela proliferam no estado e a população clama por providências às autoridades competentes. 

São iniciadas as obras de construção do Hospital da Criança, no bairro de Monte Serrat, em terreno doado ao Instituto de Proteção e Assistência à Infância pelo governo do estado.

A festa dos Reis Magos é bastante concorrida nos bairros da Lapinha, Penha e, sobretudo, Rio Vermelho. A comissão de festejos oferece bônus a todos que queiram abrilhantar a festa; o Largo de Santana encontra-se ornamentado com uma artística quermesse, além de um bonito presépio, e lá serão distribuídos mimos aos ternos e ranchos que primeiro chegarem, e à melhor fantasia.

Imposto de Consumo: a intolerância e precipitações dos agentes fiscais gera protesto por parte dos comerciantes, por terem suas mercadorias autuadas e apreendidas devido a aparentes infrações. As mercadorias saem de Salvador de trem ou de barco e chegam ao seu destino sem os selos, pois costumam-se enviar os selos pelo correio, cujo serviço é bastante moroso.

A comunidade alemã na Bahia mobiliza-se para angariar fundos para as vítimas da guerra que se alastra na Europa.

O Grupo de Teatro Jandaia estreia no cinema do mesmo nome, com a revista Fogo na canjica.

A imprensa e a comunidade elogiam a grande reforma efetuada na Praça Castro Alves.

O governador J.J. Seabra inaugura a avenida Sete de Setembro, ligando o Farol da Barra ao Largo de São Bento.

É inaugurado o Palace Hotel, na rua Chile, com bem montado estabelecimento de pensão, restaurante e bar.

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