Governadores:
Antônio Ferrão Moniz de Aragão
José Joaquim Seabra
Presidente da Assembleia Geral:
Frederico Costa
Presidente do Tribunal de Justiça:
Bráulio Xavier da Silva Pereira
Verdadeira guerra é travada nos sertões da Bahia, entre o governo do estado e o coronel Horácio de Matos. O governador Antônio Moniz, após enviar diversas expedições para dar combate ao coronel, tenta aproximação. Manda-lhe telegramas, propondo reconciliação, mas não obtém resposta. O coronel, por sua vez, telegrafa ao presidente da República, relatando as perseguições do governo do estado e o sofrimento que aflige o povo baiano, conclamando-o a que “interceda em favor deste pedaço sagrado do solo brasileiro”.
Com a tropa acampada em Campos de São João, o coronel Horácio reúne os seus cabos de guerra, e ali se decide, por unanimidade, marchar sobre a capital. Imediatamente, o presidente da República e a imprensa são comunicados da decisão. Reunido posteriormente apenas com sua família, manifesta o desejo de ser substituído por seus parentes, caso venha a perecer no campo de luta, organizando, desde logo, uma lista nominal dos que deveriam substituí-lo, sucessivamente.
Em marcha à capital:
“Compreendendo a necessidade de servir mais de perto à nobre causa da libertação do estado, formados que estão ao lado das fileiras do nosso vitorioso partido todos os municípios compreendidos na zona das Lavras Diamantinas, os quais se sentem garantidos na defesa dos seus direitos e liberdade, e obedecendo à determinação da vontade dos sertanejos, a caminho com destino a essa capital, à frente dos soldados da liberdade e confiante de encontrar em cada baiano compenetrado do seu dever cívico um poderoso auxiliar, por que possamos firmar a grande obra de ressurreição da nossa estremecida Bahia.
Acabo de telegrafar ao exmº. sr. presidente da República, impetrando novamente o seu benéfico auxílio contra os desmandos do governo da Bahia, justificando o motivo da resolução de minha ida à capital. Saudações atenciosas. Horácio de Matos”. (A Tarde, 18/2/1920)
O governo do estado mais uma vez envia soldados para combater os sertanejos, mas muitos deles, receosos, desertam. Enquanto isso, coronel Horácio de Matos marcha com destino à capital, à frente de um verdadeiro exército. Invencível, segue em sucessivas vitórias, causando o mais vivo entusiasmo no povo sertanejo. Grande número de voluntários apresenta-se dia a dia para alistar-se nas forças do coronel. Enquanto isso, a vida econômica do estado encontra-se desgovernada. Já se percebe a escassez de alimentos, o fechamento de estabelecimentos comerciais e bancários (generaliza-se), as exportações e importações estão suspensas; a Associação Comercial distribui boletim, convidando o comércio a cerrar as portas, porque não há garantias para o funcionamento. Ocorrem arruaças, assaltos, e até morte, nos bairros comerciais de Salvador.
A intervenção federal é a única solução para o “restabelecimento da ordem e tranquilidade públicas no estado”. O presidente da República decreta a intervenção, sob o comando do general Cardoso de Aguiar, reconhecendo, assim, a legalidade política do governo do estado. O fato é comunicado ao governador Antônio Moniz, a quem o presidente solicita a concessão de garantias aos revoltosos.
A comunicação com o interior torna-se difícil, uma vez que existem restrições ao transporte, assim como a censura telegráfica é estabelecida pelo general Cardoso de Aguiar, isolando o interior da capital. Os oposicionistas, entre eles Rui Barbosa, Pedro Lago, Luiz Viana, Leão Velloso, Alfredo Ruy, João Mangabeira, Pires de Carvalho, Otávio Mangabeira e Rodrigues Lima, enviam manifesto à população:
“(…) A gratidão popular guardará o culto dos seus heroicos chefes; debaixo das cinzas quentes, o civismo do grande exemplo arderá intensamente até o dia da reação contra esta república de autocratas e esta federação de oligarquias.
Mas, malditos sejam os que arrebatam das mãos do povo baiano a já conquistada e legítima vitória da sua liberdade, para o subjugarem novamente à quadrilha de criminosos que, por ele desbaratada, se viu açoitar sob a proteção do governo federal.
(…) Viva a Bahia! Viva a reação libertadora!
Viva o sertão baiano! Vivam os gigantes
e os mártires da grande reivindicação!”
(A Tarde, 25/2/1920)

Fachada do Edifícil da Associação dos Empregados no Comércio da Bahia, na elegante Rua Chile.
O General Cardoso de Aguiar incita seus subordinados a assaltarem o jornal A Tarde, mas toda a imprensa se manifesta indignada, solidarizando-se com o jornal.
O governador eleito, J.J. Seabra, recebe telegrama do presidente da República, cordialmente estimulando-o a renunciar ao cargo, num gesto de patriotismo e desinteresse, dando lugar à escolha de um candidato que restaure a tranquilidade e a paz no estado.
O conselheiro Rui Barbosa é convidado para representar o Brasil na Liga das Nações, aceitando, a princípio, o convite. Posteriormente, vem a desistir, alegando divergências políticas com o presidente Epitácio Pessoa.
“A Bahia não dá mais coco
Para botar na tapioca,
Para fazer o bom mingau
Para embrulhar o carioca.
Papagaio louro
Do bico dourado,
Tu falavas tanto,
Qual a razão que vives calado?
Não tenhas medo,
Coco de respeito,
Quem quer se fazer não pode
Quem é bom já nasce feito.
(Sinhô. Fala, meu louro)
O coronel Horácio de Matos, atendendo a sugestão dos chefes da oposição baiana e, em homenagem aos intuitos conciliatórios do presidente da República, assina acordo com os emissários do general Aguiar, do qual sai fortalecido. Preliminarmente, insiste na anulação da eleição de Seabra, o que é veementemente recusado pelos emissários. O acordo:
“a) O coronel Horácio de Matos nem os seus amigos entregarão as armas.
b) Não responderão pelos crimes cometidos no curso da luta.
c) O coronel Horácio ficará com a posse de Campestre, donde será retirado o coronel Fabricio de Matos.
d) Terá, ainda, o domínio dos municípios de Macaúbas e Lençóis, de cuja chefia serão depostos os senadores seabristas César Sá e Hermelino Leão, cabendo a direção dos mesmos aos coronéis Borges Filho e Manoel Alcântara.
e) Em nove outros municípios, será completo o domínio do coronel Horácio.
f) O coronel ficará ainda com o direito de indicar dois candidatos à Assembleia Estadual, um para a Câmara e outro para o Senado.
g) O município de Barra do Mendes será incorporado ao de Brotas de Macaúbas.
h) Será estabelecida, nos municípios de Orobó, Capivari e Itaberaba, uma política de paz.
i) Cumpridas todas as cláusulas pelo futuro governo e este fazendo no estado uma política de justiça e equidade, o coronel Horácio de Matos dar-lhe-á o apoio.
Toma posse José Joaquim Seabra como governador da Bahia. A cerimônia da posse ocorre no antigo Clube Euterpe, onde comparecem deputados, senadores, oficiais do Exército e polícia e funcionários públicos.
O ÚLTIMO CRIME DELE… (charge alusiva a Antônio Moniz). A Tarde, 16/02/1920.

No céu, embora em “travesti”
de anjinho, foi recusado.

E provocou uma revolta
no purgatório.

Plutão quase o põe em cacos.

Momo: — Está muito conhecido.
Rua, sacripanta que até
a mim assassinou.
Soldados do 19° Batalhão de Caçadores invadem a Faculdade de Direito, agridem alunos e professores, pelo simples fato de haver um acadêmico solicitado ao sargento da banda de música do referido batalhão, quando de passagem em frente à faculdade, que tocasse a música “Fala, meu louro”, do compositor carioca Sinhô. A música é uma sátira a Rui Barbosa, derrotado nas eleições presidenciais por Epitácio Pessoa.
O professor Demétrio Tourinho suspende a aula – por irônica oincidência, de direito penal militar –, lançando na caderneta do curso um enérgico protesto:
“Entrava hoje para a Sala Pedro dos Santos, a fim de dar aula, quando assisti, cheio de revolta, a uma agressão brutal à Faculdade de Direito e à mocidade da mesma, por parte de uma força do Exército Nacional. Contra essa agressão deixo o meu protesto veemente e cheio de indignação.”
O senador Rui Barbosa telegrafa a Carneiro da Rocha, diretor da Faculdade de Direito, solidarizando-se:
“Membro, pela honra, que me conferistes, do professorado nessa faculdade, venho trazer-lhes expressão minha absoluta solidariedade com seus alunos e lentes no protesto e resistência contra selvagens atentados que anarquizam a Bahia e enxovalham o país (…)”.
Continua a perseguição aos acadêmicos: um estudante de medicina é perseguido e espancado barbaramente pela polícia. As aulas do ensino superior são suspensas, até que volte o clima de paz. Uma comissão de acadêmicos vai ao governador J.J. Seabra solicitar-lhe que intervenha, e são mal recebidos.
O presidente da República, Epitácio Pessoa, dirige-se diretamente ao comandante da Região Militar na Bahia, ordenando-lhe adotar enérgicas providências e abrir rigoroso inquérito para punição dos agressores dos estudantes baianos.
A seca assola o sertão. Em Juazeiro, flagelados morrem pelas ruas e a cidade está cheia de mendigos que imploram a caridade pública.
A queda crescente do preço do cacau, aliada à exploração praticada pelos exportadores, ameaça. Os cacauicultores baianos, que reivindicam do governo a adoção de providências urgentes, como única forma de evitar a ruína de que estão ameaçados.
Os gêneros de primeira necessidade aumentam constantemente de preços, levando a Superintendência de Abastecimento a estabelecer cotações semanais, o que gera protestos da Associação Comercial da Bahia, que exercia essa função desde 1918 por determinação do Ministério da Fazenda.
A impontualidade da Bahia no pagamento aos seus credores estrangeiros ganha as colunas dos mais importantes órgãos da imprensa internacional.
Os operários baianos mobilizam-se com o objetivo de constituir uma grande federação, para melhor defender os seus interesses. Participam das reuniões delegados e comissões representativas de todas as categorias do operariado.
Várias associações operárias declaram-se em greve. Os donos de padarias consideram exorbitantes as exigências dos padeiros grevistas, entre as quais se inclui o descanso aos domingos.
A diretoria da Associação dos Empregados do estado conclama a categoria a reunir-se em assembleia, cuja ordem do dia será pleitear, junto aos poderes Executivos, Legislativo, aumento de seus vencimentos, que permanecem os mesmos há vinte e cinco anos.
Mais uma associação operária é fundada no interior do estado: o Centro Sindicalista dos Trabalhadores de Alagoinhas.
A Usina de Bananeiras entra em operação e passa a fornecer energia elétrica a consumidores particulares.