Bahia de Todos os Fatos

...1920 - 1929...

Morte de Rui Barbosa emociona a Bahia

Governador:
José Joaquim Seabra
Presidente da Assembleia Geral:
Frederico Costa
Presidente do Tribunal de Justiça:
Pedro Ribeiro de Araújo Bittencourt

A Concentração Republicana da Bahia, por meio do seu chefe supremo, conselheiro Rui Barbosa, constitui uma comissão central provisória para dirigir os seus trabalhos, composta dos srs. Miguel Calmon, Aurelino Leal, João Mangabeira, Pedro Lago, Álvaro Cova, Simões Filho e Otávio Mangabeira.

Morre Rui Barbosa, após longa enfermidade respiratória. Estado, município e Associação Comercial suspendem o expediente de suas repartições por três dias, assim que tomam conhecimento oficial do fato. Jornais de diversos países prestam-lhe homenagens expressivas, em primeira página.

A Câmara dos Deputados aprova por unanimidade, em atitude de religioso recolhimento, moção de pesar pela morte de Rui Barbosa.

É celebrada grande missa na catedral, fazendo-se, assim, a última homenagem fúnebre dos baianos a Rui Barbosa.

Em discurso proferido na Câmara Alta da República, o senador Pedro Lago, sucessor de Rui Barbosa, relembra as últimas palavras escritas por seu antecessor:

“Desde 1912, não temos, na Bahia, liberdade, não temos voto, não temos lei, não temos responsabilidade.”

O Tribunal do estado reconhece a competência exclusiva dos Tribunais da União e aceita o pedido de habeas corpus aos oposicionistas diplomados, para que possam, livremente, reunir-se em dia e hora designados por lei, no edifício da Câmara dos Deputados do estado. O governador J.J. Seabra faz ofício assegurando que cumpriria a ordem, isto é, não perturbaria nenhuma reunião dos candidatos legitimamente diplomados. Entretanto, nega o edifício da Câmara, “por estar em obras”.

A imprensa anuncia crise política na sucessão baiana, em virtude do lançamento, pelo governador J.J. Seabra, da candidatura de Góes Calmon ao governo do estado. O presidente da República, Arthur Bernardes, manifesta sua preferência, telegrafando ao candidato Góes Calmon, fazendo votos de que, eleito e empossado, promoverá na Bahia um governo à altura das tradições do estado. A véspera das eleições, alegando motivo de força maior, J.J. Seabra abandona a candidatura Góes Calmon.

Apologia ao coração
“Tem-se dito que o povo adivinha o gênio. Surpreende-o, festeja-o, apoteosa-o, diviniza-o. O povo nunca se ilude, nessa consagração dos predestinados, porque é impulsionado sempre pelos seus próprios sentimentos. O povo está no coração do gênio, como gênio está no coração do povo. A palavra daquele reflete a verdade dos sentimentos destes. O pensamento é apenas uma exteriorização desses sentimentos. Mas o órgão verdadeiro é um só: o coração. É por esse que o gênio comunica ao povo.” (Gloriosas e imortais palavras de Rui Barbosa, publicadas na Revista Bahia Ilustrada)

O jornal O País, do Rio de Janeiro, bombardeia: “O sr. Seabra, malogrado governador da Bahia, está como aquele personagem da conhecida quadra:

‘Neste campo solitário
Onde a desgraça me tem,
Falo, ninguém me responde;
Olho, ando, vejo ninguém’. “

Em seguida, conclui que, rompendo com a candidatura Góes Calmon, o ex-chefe do Partido Democrata ficou sem par na nossa história.

Morre em São Paulo o ilustre baiano Oscar Freire, que lá se encontrava a convite do governo do estado para instituir o ensino da Medicina Legal, nos mesmos moldes em que o fizera na Bahia.

José Gabriel de Lemos Brito, comissionado pelo governo federal para rever os diversos sistemas penitenciários em vigor nos vários estados da Federação, começando pela Bahia, conclui que a penitenciária do estado tem um diretor dedicado e bons funcionários. Não tem mais nada, falta-lhe tudo.

Continua a perseguição ao candomblé, com a polícia invadindo terreiros e efetuando prisões de pais de santo.

A febre amarela faz vítimas na capital e interior, e o governo do estado clama providências ao governo federal. O médico Sebastião Barroso, dirigente dos serviços de higiene federal no estado, assume o comando do serviço de profilaxia, prometendo postura enérgica no combate à doença. A febre amarela chega a afetar diretamente o comércio baiano, pois é responsável pelo não atracamento dos paquetes nas docas.

O governo federal abre crédito de 600 contos de réis, a ser dividido entre a Bahia e Alagoas, para o combate à febre amarela e, ao mesmo tempo, reclama do descaso de J.J. Seabra para com a epidemia que já assola o estado, fazendo muitas vítimas. A Fundação Rockefeller também destina recursos para acabar de vez com a febre amarela, cabendo uma parcela destes à Bahia.

O professor Martagão Gesteira propõe a criação da Liga Baiana Contra a Mortalidade Infantil e inaugura, alguns meses depois, o primeiro consultório de lactentes.

São instaladas, nas cidades de Santo Amaro e Jequié, agências do Banco do Brasil, graças à luta nesse sentido empreendida pelo deputado João Mangabeira.

Começam as obras para o assentamento de linhas de bonde no bairro do Tororó.

Na agricultura, a Bahia ocupa o 3º lugar no Brasil em área cultivada, ficando atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais. Destacam-se as culturas de milho, feijão, mandioca, fumo, café, algodão, arroz e hortaliças.

O estado da Bahia é considerado o maior centro exportador de cacau, sendo os maiores importadores os Estados Unidos, Alemanha e França.

Símbolo de rapidez nos serviços cartorários, o 2º Tabelião da cidade de Remanso usa um veado como sinal público. Em todos os documentos da sua lavra vem carimbado um elegante e galhudo cervídeo. Veado, no caso, é o sobrenome do próprio tabelião, que se subscreve “Cyrillo da Rocha Veado”. Em testemunho da verdade…

O Sindicato dos Agricultores lança a revista Brasil Cacaueiro, que, além de tratar da lavoura do cacau, discute também outros assuntos ligados à agricultura e à pecuária.

A população baiana é convocada para assistir, no Cine Teatro Guarani e no Politeama Baiano, a um dos maiores acontecimentos cinematográficos da Bahia, tendo como título Os funerais de Rui Barbosa.

Surge um novo pintor baiano, o talentoso e extraordinário Alberto Valença, cujos quadros são expostos na Casa Góes, em Salvador.

Morre Luiz Viana, grande chefe e político baiano, ex-governador e conselheiro da República.

Literatos e intelectuais baianos comemoram a passagem do tricentenário do poeta Gregório de Matos.

A Bahia homenageia seu poeta maior, Castro Alves, erigindo-lhe estátua na praça que também leva o seu nome.

O caricaturista K-Lunga – nascido Raymundo Chaves Aguiar, em Lisboa, e radicado na Bahia desde 1913 – ganha medalha de prata por seus trabalhos expostos na mostra comemorativa do I Centenário da Independência da Bahia.

A passagem do Dois de Julho, na capital, além dos festejos tradicionais, foi marcada por inaugurações, principalmente as da “Casa da Bahia”, como o povo insiste em chamar o Instituto Histórico, e do “Moinho da Bahia”, em imponente edifício nos terrenos das docas do porto. Em Madre de Deus foi também inaugurado o Farol do Boqueirão, recentemente construído pela Capitania dos Portos.

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