Governador:
Francisco Marques de Góes Calmon
Presidente da Assembleia Geral:
Frederico Costa
Presidente do Tribunal de Justiça:
Pedro Ribeiro de Araújo Bittencourt
Em telegrama de 21 de fevereiro, do Ministério da Justiça, o governo do estado é informado da decretação de estado de sítio na Bahia, “cabendo ao presidente da República prorrogá-lo, estendê-lo ou suspendê-lo no todo ou em parte”. E a prorrogação acontece, até o fim do ano.
Começam entendimentos para a organização de um grande partido político no estado, o Partido Republicano da Bahia.
Comerciantes de Jequié protestam contra os impostos estaduais, fechando suas portas. Por meio da Associação Comercial, exigem do governador que modifique a legislação, e obtêm como resposta: “o Executivo não faz leis, apenas as executa”.
O senador Antônio Moniz, em entrevista ao jornal Correio da Manhã, acusa o governo Góes Calmon de estar envolvido em falcatruas com o Banco Econômico da Bahia. A reação é imediata: o governador lança um repto de honra, com grande repercussão na imprensa, em telegrama endereçado ao senador Pedro Lago e ao deputado Otávio Mangabeira, solicitando que seja lido na tribuna.
O repto de honra do governador: que duas pessoas de reconhecida idoneidade, apontadas pelo Supremo Tribunal Federal – ou pelo presidente da Câmara dos Deputados, ou, ainda, pelo vice-presidente do Senado – apurem a veracidade das acusações; caso seja encontrada qualquer irregularidade envolvendo a sua gestão financeira, assume o compromisso de imediatamente renunciar ao cargo de governador do estado.

O senador Antônio Moniz volta à carga, na tribuna do Senado, reiterando as declarações feitas ao jornal. E também desafia: se provarem o contrário, renuncia incontinenti ao seu mandato.
O resultado? A turma do “deixa disso” entra em ação e acalma os ânimos. Nota distribuída aos jornais pelo senador Pedro Lago e a bancada baiana na Câmara Federal:
“O dr. Francisco Marques de Góes Calmon, governador da Bahia, lançou por intermédio do senador Pedro Lago um repto ao senador Antônio Moniz concitando-o a uma ampla devassa no Tesouro do estado, em virtude de injúria em recente entrevista ao Correio da Manhã. Não tendo o senador Antônio Moniz aceito o repto formulado em termos amplos e decisivos, o senador Pedro Lago e a unanimidade da representação baiana na Câmara Federal, devidamente autorizados, dão como encerrado o incidente, de modo definitivo, por não ajustarem os subterfúgios do senador reptado ao ponto de honra em que foi posta a questão.” E tudo voltou à calma de uma quarta-feira de cinzas…
Alunos da Faculdade de Direito, na capital, criam a assistência judiciária acadêmica, para defender gratuitamente os pobres.
Chega à Bahia o capitão do Exército Vicente de Paulo Vasconcellos, com a alta missão de proteger os índios ainda existentes em certas zonas do sul baiano.
A Missão Rockfeller, no Brasil, declara à imprensa que está praticamente extinta a febre amarela no estado. Turmas de precaução permanecem apenas nos municípios de Santo Amaro, Santo Antônio de Jesus, São Félix e Castro Alves.
É alarmante o surto de peste bubônica em Conceição do Coité, com muitas mortes em poucos dias.
Baixa repentina nos preços do produto ameaça de completa ruína a cacauicultura. Os produtores, alarmados, reúnem-se na Associação Comercial e discutem soluções para minorar a crise. Resolvem pedir apoio aos poderes constituídos, nas esferas estadual e federal, no sentido de restabelecer a carteira de crédito agrícola do Banco do Brasil.
É regulamentada a lei federal que autoriza a União a auxiliar o desenvolvimento da cultura e indústria da mandioca. A medida é altamente benéfica para a economia do estado, responsável por 17% da produção nacional desta planta nativa, indispensável na mesa do nordestino.
Na capital, o setor de pastelaria, monopolizado por comerciantes de origem espanhola, enfrenta uma população revoltada com os abusos. Os pães, doces e empanadas, com o preço aumentado em cem por cento, permanecem nos cestos e balcões, ignorados pelos consumidores. Depois de alguns dias de prejuízos, os preços voltam ao normal.
A rádio-telefonia está na moda. A maravilhosa máquina que traz a voz humana, pura e nítida, é sucesso. Um núcleo de radiômanos se constitui, com sede na Rádio Sociedade da Bahia, encorajando a instalação de aparelhos particulares. A regulamentação e fiscalização competem ao Telégrafo Nacional.

Governador Góes Calmon
A maçonaria baiana, pelas suas várias lojas da capital, em atitude de solidariedade, protesta contra o ato de prepotência do chefe do gabinete italiano, Benito Mussolini, que mandou fechar todas as lojas maçônicas da Itália.
A segunda-feira do Bonfim, em Salvador, seguindo a tradição de todos os anos, continua festiva, dando a impressão de um Carnaval animado. Moças e rapazes com violões, empunhando palmas, se dirigem para a Ribeira em barcos ou automóveis enfeitados; os ranchos e ternos percorrem as ruas com suas charangas, arrastando multidões. As casas são ornamentadas, e se dança e se bebe a valer em louvor ao glorioso padroeiro. A grande feira de frutas da Ribeira desafia a gula dos foliões.
Em fevereiro, o Carnaval toma conta da capital. Pranchas, blocos e cordões enfeitados arrancam aplausos. O movimento na Baixa dos Sapateiros é intenso. No coreto, em São Miguel, a Filarmônica Recreio do Pilar anima a multidão. Os bailes nos clubes prosseguem com muita animação. A prancha “Os Mensageiros da Folia”, composta de senhorinhas e rapazes da boa sociedade, sai do Forte de São Pedro, ornamentada de verde, e marca a presença chique no Carnaval, cantando:
“Vamos à baila do abismo
O mundo agora é levado
Eis porque o feminismo
Finalmente organizado
Cigarro à boca e bengalinha
Com invejável posse a cruzar
Sem receio de ostentar
Com posse e arte a cartolinha.”
As festas fazem uma pausa durante os dias da quaresma, para logo após a Semana Santa, no Sábado de Aleluia, acontecer o Mi-Careme, com vinte e quatro horas de Carnaval, festejado com batuques, maxixes, risos e fanfarras. São organizados bailes à fantasia, blocos e cordões em vários pontos da cidade. A volta do Momo é comemorada solenemente ao anoitecer do Sábado de Aleluia, com batalhas de confetes, lança-perfumes e serpentinas e desfiles de automóveis na Avenida Sete. A farra prossegue até o Domingo de Páscoa.
Apesar da proibição, muitos casamentos são celebrados à noite. Monsenhor Francisco Costa reitera aviso aos vigários da capital e interior no sentido de não celebrarem casamento depois do pôr do sol.

Paisagem urbana. Barra, Salvador.
A batida policial, comandada pelo delegado Pedro Gordilho, fecha uma casa de jogo do bicho, no Comércio, em Salvador.
No Ministério Público, a bacharela em Direito Hermelinda Paz é nomeada para exercer as funções de adjunto do promotor público na comarca da capital. O jornal A Tarde publica uma peça intitulada “Musa risonha”, assinada por Jesovi, satirizando o fato de ter sido nomeada uma mulher para exercer tal função.
A lancha “Lia Margarida” começa a fazer diariamente a travessia Mar Grande-Salvador, pioneira nesse meio de transporte.