Bahia de Todos os Fatos

...1930 - 1939...

Munícipios antigos somem do mapa com a reforma de Artur Neiva DE ARTUR NEIVA

Interventores:
Leopoldo Afrânio Bastos do Amaral
Artur Neiva
General Raimundo Rodrigues Barbosa
Tenente Juracy Magalhães
Presidente do Tribunal de Justiça:
Pedro Ribeiro de Araújo Bittencourt

O antigo Elevador da Conceição, que liga as partes alta e baixa de Salvador, é substituído por uma nova construção, de 72 metros de altura, com duas torres, uma delas conhecida como “parafuso”, por ser engastada na encosta. O original meio de transporte, agora, recebe o nome do seu criador, Antônio Lacerda, passando a cartão-postal de Salvador com o nome de Elevador Lacerda.

A passagem por Salvador do luxuoso dirigível Graff Zeppelin, o primeiro a fazer a travessia do Atlântico, partindo da Europa com destino à América do Sul, leva a população às ruas, curiosa e emocionada. O novo meio de transporte impressiona tanto pela sua forma como pelo conforto que proporciona aos passageiros.

A fiscalização municipal divulga informações sobre o número de veículos que trafegam em Salvador: autos comuns para passageiros – 655; caminhões – 222; autobaratas – 40; auto-ônibus – 38; limousines – 13; tipo sedan – 9; andorinhas – 4; autos fúnebres – 5. Deste total de 986, são novos 147 autos comuns e 31 caminhões.
É criado o município de Cipó.
Juarez Távora, delegado do governo provisório para o Norte, chega à Bahia em inspeção federal pelo período de dez dias. Determina, entre as medidas imediatas a serem executadas, a captura e extermínio do bando de Lampião.

É demitido o interventor Leopoldo Amaral, assim como todo o seu secretariado. Contribuem para isso diversos fatores: a crise na economia, seguida da crise social que, desde 1929, atinge a Bahia; a sua resistência em atender aos pedidos dos políticos locais; as agitações populares e, por fim, as interferências do capital estrangeiro.

O ex-governador Moniz Sodré, em artigo no Diário da Bahia, apela para que a escolha do interventor do estado recaia no nome de um baiano. J.J. Seabra, sobrepondo-se à autoridade de Juarez Távora, entrega pessoalmente a Getúlio Vargas uma lista de trinta e quatro candidatos, indicando como seu favorito o tenente Juracy Magalhães, em substituição a Leopoldo Amaral. A colônia baiana no Rio de Janeiro apresenta o nome de Seabra. O Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, insinua o nome do coronel Góes Monteiro, chefe da Casa Militar da Presidência da República.

Artur Neiva é nomeado interventor federal na Bahia, e toma posse numa terça-feira gorda de Carnaval, juntamente com seus secretários no Palácio Rio Branco. Médico e cientista de renome internacional, Neiva foi escolhido em lista tríplice apresentada por Juarez Távora, e ocupava então a Secretaria do Interior no governo de São Paulo. Empossado também, no mesmo dia, o novo prefeito da capital, o engenheiro Arnaldo Pimenta da Cunha, primeiro prefeito nomeado em caráter efetivo pelo governo revolucionário, em substituição a Tirso Paiva, que exercia o cargo interinamente.

Simões Filho (de chapéu, sentado) deixa as oficinas para distribuir exemplares do jornal A Tarde aos leitores, enfrentando a proibição do governo que vetara a circulação do seu jornal. Salvador 1931.

É nomeado, por decreto do governo provisório, o novo diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, o professor Aristides Novis.

A Lei de Organização Municipal, promulgada por Artur Neiva, provoca drásticas alterações no mapa do estado, ao suprimir municípios com menos de vinte mil habitantes e com arrecadação insuficiente. A medida gera protestos indignados de todo o interior, principalmente de municípios

 

Interventor Artur Neiva

 

antigos extintos por força da lei, como Jaguaripe, criado em 1693. Diversos distritos judiciais também são eliminados, sob protestos veementes de juízes e advogados.

A imprensa passa a hostilizar a administração de Artur Neiva. Em represália, a sede de O Imparcial é invadida e é preso o redator chefe do jornal.

O jornal O Globo, do Rio de Janeiro, publica em manchete: “A Bahia entregue aos vícios funestos da mentalidade do PRP”. O artigo condena veementemente os recentes atos de Artur Neiva, de censura à imprensa e proibição dos “meetings” em praça pública. Considera prepotentes os atos do interventor. O Diário Carioca também ataca o interventor, afirmando que este quer lançar a cavalaria contra o povo.

A exemplo de outros estados, J.J. Seabra funda, na Bahia, a Legião Revolucionária, apesar das divergências com o interventor federal Artur Neiva.

O chefe de polícia lança advertência aos membros do diretório do Partido Popular João Pessoa (PPJP), para que não vistam camisas vermelhas e limitem suas ações partidárias aos assuntos internos do partido.

Getúlio Vargas cria o Conselho Federal do Café e o Instituto de Cacau da Bahia, com o objetivo não só de estabilizar os preços como também de controlar as vendas no mercado externo, amenizando, assim, a crise causada pela Grande Depressão. Em Ilhéus, principal produtor de cacau do estado, é grande a resistência à criação do instituto, diante do anunciado projeto de fechamento do porto daquela cidade a fim de melhor controlar as exportações.

Simões Filho (de chapéu, sentado) deixa as oficinas para distribuir exemplares do Jornal A Tarde aos leitores, enfrentando a proibição do governo que vetara a circulação do seu jornal. Salvador, 1931

Simões Filho (de chapéu, sentado) deixa as oficinas para distribuir exemplares
do Jornal A Tarde aos leitores, enfrentando a proibição do governo que vetara a circulação do seu jornal. Salvador, 1931.

Artur Neiva é exonerado do cargo de interventor federal na Bahia. O tenente do exército Juracy Magalhães é indicado por Juarez Távora para ocupar o cargo.

É sancionado o Código dos Interventores, pelo governo provisório, regulando as funções dos interventores federais, estaduais e municipais.

Toma posse o novo interventor federal Juracy Magalhães, então com
26 anos de idade, com metas a serem empreendidas de imediato, constantes do seu programa de governo: equilibrar as finanças do estado e livrá-lo do banditismo. A nomeação de Juracy Magalhães consegue o milagre da unanimidade baiana, pois todas as correntes políticas se unem contra ele: Seabra, Mangabeira, Calmon, Simões Filho, Luís Viana Filho. Em entrevista ao jornal A Noite, Juracy declara que governa a Bahia “à margem das correntes políticas, que a situação financeira da Bahia é grave e que colabora com a imprensa, sem apoio à censura”.

Morre o coronel Horácio de Matos, assassinado com três tiros de revólver, na capital, em 15 de maio. O coronel foi atingido pelas costas pelo indivíduo Vicente Dias dos Santos, ao passar pelo Largo do Accioli, nas proximidades da esquina do Areal de Baixo.

É instituído o prêmio de 100 contos para a tropa que capturar Lampião. A Bahia contribuirá com 40 contos.

A Associação Comercial de São Paulo sugere ao ministro do Trabalho a fixação da jornada de 8 horas de trabalho diário.

Lindolpho Collor apresenta ao chefe do governo provisório um projeto de decreto regulando a instituição do salário mínimo no Brasil.
As mulheres maiores de 21 anos adquirem direito a voto.
Um expressivo manifesto do clero baiano pede o regresso de Otávio Mangabeira, ainda exilado por motivos políticos.

É publicado decreto concedendo anistia aos implicados em crimes eleitorais e políticos.

A imprensa divulga uma “carta aberta” de Bráz do Amaral, na qual defende a preservação das terras do Nordeste da Bahia, cuja incorporação a Sergipe era pretendida pelo interventor daquele estado, o capitão Maynard. Circula o primeiro número do jornal Tribuna Operária da Bahia.

Em Salvador, continua a perseguição aos candomblés. O subdelegado da Lapinha cerca a casa do babalorixá Américo dos Santos e apreende vários objetos de culto.

Motoristas protestam contra a alta do preço da gasolina na Bahia. Em outros estados, o preço é $1; aqui, 1$400.

É decretada medida tornando obrigatória a mistura do álcool à gasolina. Durante as comemorações do aniversário da Proclamação da República, realiza-se uma parada automobilística, como forma de propaganda do uso do álcool nos motores.

A imprensa registra o destaque obtido pela delegação da Bahia no II Congresso Feminista Brasileiro, realizado no Rio de Janeiro.

Morre no Rio de Janeiro o jornalista baiano Eurycles de Matos, redator chefe de O Globo. Seu cargo é ocupado pelo jornalista Roberto Marinho.

O diretor geral dos Correios suspende a contratação de mulheres, devido ao já alto número de funcionárias nos seus quadros.

É inaugurado o novo sistema de telefonia automática na área central de Salvador e no bairro do Garcia. O sistema consiste na discagem direta do número, ao invés da solicitação da ligação à telefonista.

A Companhia Linha Circular põe em operação novos bondes de fabricação baiana, feitos nas oficinas da Graça, com custo bem inferior aos importados.

Jorge Amado lança O país do Carnaval, seu primeiro romance.

A delegacia da Ordem Social na Bahia, a par das atividades dos comunistas, começa a efetuar prisões, encaminhando, posteriormente, os presos para o Rio de Janeiro.

Escritor Jorge Amado

 

É assinado decreto criando a Pinacoteca da Bahia. O ato atende a um velho projeto do historiógrafo baiano Francisco Borges de Barros, diretor do Arquivo e Museu do estado. É de sua autoria o filme História da Bahiaexibido no Cine Guarani, com a presença de muitas autoridades.

O governo do estado, através da Secretaria de Agricultura, transfere provisoriamente a Escola Agrícola da Bahia de São Bento das Lages (Cruz das Almas) para Salvador.

O recém-fundado Esporte Clube Bahia sagra-se campeão baiano e passa a fazer parte do universo esportivo do estado:

“Campeã de trinta e um
ano bom em que nasceu
– um menino em calças curtas,
fulgurando no apogeu
era a marca que o faria
se orgulhar do feito seu.”

(Edson Barbosa Bulos. Louvação ao Bahia)

 É inaugurado o Colégio S. S. Sacramento, em prédio cedido por dom Augusto, arcebispo primaz do Brasil.

O primeiro monumento público erguido no país em memória de Rui Barbosa, trabalho do escultor José Cucê, é inaugurado no Parque Anhangabaú, em São Paulo, à sombra de um carvalho plantado pelo próprio homenageado.

É reinaugurado o Plano Inclinado Gonçalves, conhecido como “Velho Charriot”. O plano, que funciona desde 1889, é reequipado com novas máquinas e moderna aparelhagem de segurança.

Neste ano são realizadas diversas investidas, sem sucesso, contra o bando de Lampião, que continua a agir no estado. Entre outras estripulias, ateia fogo na Fazenda Paus Pretos, de propriedade do coronel Petronílio Reis, o conhecido “Coronel Petro”, pessoa de grande influência na região de Santo Antônio da Glória. Há registro, também, de atrocidade praticada pelo famigerado “Zé Baiano”, marcando com ferro em brasa, com as iniciais JB, o rosto de uma moça.

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