Interventores:
General Renato Onofre Pinto Aleixo
João Vicente Bulcão Viana
Presidente do Tribunal de Justiça:
Oscar Pinto de Souza Dantas
O Brasil e a Bahia estão envolvidos na guerra, e só resta ao povo desejar o seu término o quanto antes. Mas a ideia de liberdade fortalece a reação interna contra o Estado Novo.
Editado pelo governo federal, o Ato nº 9, que prevê a realização de eleições para a Presidência, Câmara dos Deputados, Senado e Assembleias Estaduais, é o primeiro passo em direção à redemocratização do país.

Samba de roda
“A festa chega ao seu auge
e por toda a parte é o samba
de roda sapateado ao ritmo
endiabrado das batucadas
e das palmas.”
(Retratos da Bahia. Pierre Verger)
Mas é criticado por professores e estudantes da Faculdade de Direito da Bahia, que nele veem limitações ao processo, como o fato de o Congresso passar a ter poderes constitucionais sem soberania para compor um novo quadro institucional. O professor Jaime Junqueira Ayres o considera mesmo “uma reafirmação agravada de ideias fascistas da Constituição de 37… que transforma o Parlamento em pobre e melancólico fantoche”.
A Faculdade de Direito da Bahia, pela sua Congregação e com o apoio dos professores, se posiciona face ao Ato Adicional nº 9 por meio de manifesto à nação, cujo conteúdo vai ao encontro do pensamento e posição dos professores da Faculdade Nacional de Direito, no Rio, redundando num manifesto coletivo que conclui com a certeza de que o Ato é “uma medida que atenta contra as esperanças de que a democracia seja restaurada no país”.
A Ordem dos Advogados da Bahia aprova moção pela restauração do regime democrático.
Os estudantes da Bahia saem em passeata de repúdio à repressão que resultou na morte do estudante pernambucano de Direito, Demócrito de Souza Filho.
Os autonomistas da Bahia aprovam moção de solidariedade à campanha de lançamento do nome do brigadeiro Eduardo Gomes para a Presidência da República.
Otávio Mangabeira, ainda no exílio, declara à Associated Press seu apoio à candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à Presidência e diz que retornará com ou sem anistia.
É lançada pelo interventor Pinto Aleixo a candidatura do general Eurico Gaspar Dutra à Presidência da República.
Na Praça da Sé, a União dos Estudantes da Bahia, presidida por Orlando Moscoso, realiza comício pró-anistia. Entre outros, falam Milton Tavares, Edgard Mata e Nestor Duarte.
É instalado o I Congresso dos Estudantes da Bahia, com o objetivo de analisar e se posicionar sobre a situação política.
Realiza-se, no Cine Teatro Guarani, a primeira grande convenção do Partido Social Democrático (PSD).
Nasce a União Democrática Nacional (UDN), tendo Otávio Mangabeira como o primeiro presidente do Diretório Nacional. O partido faria oposição constante ao getulismo e participaria de todas as eleições majoritárias e proporcionais até 1965.
Nasce em São Paulo a União Democrática Socialista, em oposição ao regime ditatorial do Estado Novo. Um ano depois, funde-se ao movimento denominado Esquerda Democrática e transforma-se no Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Juracisistas e mangabeiristas instalam o diretório da União Democrática Nacional (UDN), realizando sua primeira sessão e empossando os seus membros.
O povo se mobiliza, por meio de entidades organizadas, exigindo a anistia para os democratas e antifascistas. Notas na imprensa afirmam que “homens do porte de Luís Carlos Prestes e Otávio Mangabeira não podem ficar afastados da vida política nacional”.
Atendendo ao clamor nacional, o governo decreta a anistia para presos e exilados políticos.
A rendição da Alemanha leva o mundo ao delírio e, na Bahia, a euforia não é menor: em Salvador e no interior, as ruas se enchem com multidões exultantes. Há excessos contra alemães e italianos radicados em Salvador, com apedrejamento de lojas e residências.
O general Eurico Gaspar Dutra, em campanha para a Presidência da República, visita a Bahia e realiza comício no Cine Teatro Guarani. Saúda o povo baiano através da imprensa, afirmando ter a honra “de saudar o impávido e democrático povo baiano…”
Realiza-se grande passeata do operariado baiano pela vitória das Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial. Percorrendo o trajeto Praça da Sé–Campo Grande, a manifestação foi contando com a incorporação espontânea do povo.
O Clube de Educação Política realiza no Tororó, em Salvador, grande comício pela vitória aliada, contando com a participação de estudantes, políticos e diversas personalidades, entre elas Orlando Moscoso, presidente da UEB, Milton Santos e Lomanto Júnior.
O engenheiro Aristides Milton da Silveira é empossado no cargo de prefeito da cidade do Salvador.
O Movimento Popular Anti-Integralista (MUT) convoca filiados na Bahia, trabalhadores, sindicatos e partidos políticos para uma grande assembleia, em que será prestada homenagem ao dirigente comunista Carlos Marighella. Entre outros presentes, Giocondo Dias, João Torres e João Falcão, este último diretor da revista Seiva e do semanário Momento.
É instalada em Salvador, por iniciativa de médicos baianos e com apoio nacional, o Congresso Brasileiro dos Problemas Médico-Sociais do Após Guerra, onde serão analisadas as sequelas biológicas e psicológicas do conflito e buscando-se, ainda, propor soluções compatíveis com o momento.
É fundado o Partido de Representação Popular (PRP), de Plínio Salgado.
Instala-se o Comitê Estadual do Partido Comunista do Brasil, com a presença de autoridades do Executivo, Judiciário e representantes do Legislativo. Na ocasião, é homenageado o ex-pracinha Ariston Andrade.
Nelson Carneiro organiza o Centro Cívico J.J. Seabra, e os comunistas, os comitês populares democráticos, como forma de penetração no eleitorado.
Desconcertante a entrevista do interventor Renato Pinto Aleixo, na qual, ante as notícias do seu afastamento, declara que “não estava demitido, porque não pedira demissão.” Mas a verdade é que a Bahia, pelas suas poderosas forças eleitorais, já não aceita a sua intervenção no estado.
O Tribunal Superior Eleitoral delibera que o futuro parlamento terá poderes constituintes.
Em todo o país, realiza-se o alistamento eleitoral, com vistas à realização das eleições diretas para presidente e governadores.
O presidente da República, Getúlio Vargas, assina decreto-lei dispondo sobre as eleições gerais de 2 de dezembro.
O interventor Pinto Aleixo viola a Constituição de 1937, transformando-se em governador da Bahia e suspendendo, por conta própria e à revelia do presidente, a intervenção federal, menosprezando a autoridade de Getúlio Vargas.
Getúlio Vargas é deposto por um golpe militar e o Exército transmite o cargo ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro José Linhares.
É nomeado pelo presidente José Linhares o novo interventor na Bahia. Trata-se do ministro João Vicente Bulcão Viana.
Renato Pinto Aleixo chega ao fim do governo com mais polimento na sua maneira de ser, sobretudo com os civis. O seu último ato como interventor é a oficialização do jogo do bicho, anteriormente legalizado por Juracy Magalhães, e proibido por Landulfo Alves. O poeta Costa Bahia registra a saída de Aleixo (que posteriormente seria eleito senador pelos baianos), com longa paródia do “Vozes d’África” de Castro Alves, que assim se inicia:
“Vozes da Bahia”
“Deus! Oh, Deus! Onde estás que não respondes?
Não tenho carne… já não tenho bondes…
Nem manteiga… nem gás…
Há muitos anos me lamento e queixo!
O Céu é surdo… nem mesmo Santo Aleixo
Sabe, Deus, onde estás?”
São realizadas as eleições para presidente da República e para o Congresso Nacional Constituinte. O general Eurico Gaspar Dutra é eleito para a Presidência.
O presidente José Linhares assina decreto-lei afastando do exercício dos seus cargos, por três meses, os prefeitos municipais, que serão substituídos pelos juízes vitalícios.
É instalado o Partido Comunista na Bahia, na Associação dos Empregados do Comércio.
Nasce a União Socialista Popular, formada por troskistas dissidentes do PCB e socialistas independentes. Tem vida efêmera, extinguindo-se no final do ano.
É decidida a construção da Usina Hidrelétrica da Cachoeira de Paulo Afonso, que terá capacidade para 5.000 kW.
Considerado o maior empreendimento já realizado na Bahia, é constituída a Viação Aérea da Bahia S.A., sob a presidência de Arnaldo Silveira, seu fundador.
A imprensa registra melhora na qualidade de vida nos sertões baianos, em decorrência dos bons preços alcançados pelo fumo, uma das mais poderosas riquezas econômicas do estado.
Chega à Bahia o francês Pierre Verger, depois de percorrer os cinco continentes, registrando, em fotografias, as expressões culturais dos lugares por onde passa. Aqui se fixaria definitivamente, desenvolvendo importantes trabalhos de antropologia, tendo como temas a cultura negra e o candomblé. Por uma de suas pesquisas, sobre as influências recíprocas entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos, obteria o título de doutor de terceiro ciclo na Sorbonne, apesar de nunca ter concluído o curso secundário.
A análise do Censo de 1940 mostra que apenas 27,13% da população do Nordeste é alfabetizada.
Com a presença do interventor Bulcão Viana, toma posse a nova diretoria da Associação dos Jornalistas Profissionais da Bahia, tendo como presidente o jornalista Áureo Contreiras.
A Bahia declara guerra à tuberculose. O maior número de casos está entre os operários.
O povo baiano movimenta-se contra o truste da carne verde e pressiona para o livre comércio da mesma, por meio de abaixo-assinados.
Como parte dos festejos em homenagem ao seu dia, inaugura-se em Salvador a Biblioteca do Professor.
A imprensa constantemente se manifesta contra o jogo do bicho, especialmente no que considera “o sangramento das economias populares pelo vandálico e insaciável detentor do monopólio dos vícios”.
Realiza-se no Gabinete Português de Leitura o 1º Concerto da Orquestra Sinfônica da Bahia.
Surge o Teatro de Amadores de Fantoches, ligado ao Clube Fantoches da Euterpe. O grupo faz muito sucesso em temporadas sucessivas nos anos seguintes.
O professor Manoel Pinto de Aguiar revela-se grande incentivador da cultura baiana, com a criação da Livraria Progresso Editora, sob o nome Aguiar e Souza, de sociedade com o livreiro Armando Souza (numa experiência que duraria 20 anos de atividades), constituindo-se num “trabalho praticamente artesanal, sem infraestrutura, sem parque gráfico, sem suporte econômico e financeiro, sem conselho editorial, mas fruto de obstinada dedicação do intelectual Manoel Pinto de Aguiar e de Armando Souza”. Trata-se da mais importante atividade editorial do Norte-Nordeste do país.