Bahia de Todos os Fatos

...1940 - 1949...

Promulgada nova constituição do estado

Interventores:
General Cândido Caldas
Governador
Otávio Mangabeira
Presidente da Assembleia Legislativa:
Jaime Junqueira Aires
Presidente do Tribunal de Justiça:
Oscar Pinto de Souza Dantas

A Igreja católica repudia qualquer aliança das forças democráticas com os comunistas.

São realizadas, em 19 de janeiro, as eleições para o governo do estado, sendo eleito Otávio Mangabeira, da UDN, para o quadriênio 1947-1951, derrotando Medeiros Neto, do PTB. Na mesma data, são escolhidos, também, os representantes do povo no Parlamento Estadual, que elaborariam a nova Constituição do estado.

É eleita a Mesa Diretora da Assembleia Estadual Constituinte, sendo escolhido para presidente Jayme Junqueira Aires. Neste mesmo ano, promulga-se a nova Constituição do estado da Bahia.

Wanderley de Pinho assume a prefeitura da capital.

Governador Otávio Mangabeira

 

Anísio Teixeira é nomeado secretário de Educação e Saúde do governo Otávio Mangabeira e implanta o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, experiência pioneira de educação integral para jovens, que serviu de modelo ao sistema educacional brasileiro (posteriormente, a Unesco o citaria como modelo a ser seguido por outros países).

O presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, decreta a suspensão das atividades da Juventude Comunista.

Na Câmara Federal, o deputado baiano Nestor Duarte apresenta projeto de lei que dispõe sobre reforma agrária. O deputado seria posteriormente convidado para a Secretaria de Agricultura do estado, pelo governador Mangabeira, revelando-se naquela pasta pelo seu dinamismo e merecendo do poeta satírico Silvio Valente os seguintes versos:

“Fomentou agricultura
com fúria tamanha e tanta
que morreu. Na sepultura,
fez gravar: – Aqui se planta!”

Na Assembleia Legislativa, o requerimento do deputado Rubem Nogueira, que pretende introduzir a imagem do Cristo crucificado no recinto do plenário da casa, é aprovado em sessão das mais concorridas e sob muita polêmica.

É cancelado pela Justiça Eleitoral o registro do Partido Comunista Brasileiro, provocando as mais diversas e iradas reações dos comunistas, entre estes o deputado estadual Giocondo Dias.

A Comissão Nacional da União Democrática Nacional (UDN) posiciona-se contra a cassação dos mandatos dos comunistas, enquanto o Partido Social Democrático (PSD) solidariza-se com o presidente da República, em apoio à cassação do registro do PCB.

Diante do anteprojeto de lei da Presidência da República considerando Salvador base militar, a Assembleia Legislativa do estado aprova moção à Câmara Federal, expressando o desejo de que seja preservada a autonomia da capital.

Ex-combatentes baianos levam à Assembleia Legislativa um memorial em que apelam para que seja cumprida a recomendação da Presidência da República sobre o reaproveitamento dos ex-expedicionários em cargos públicos.

A Assembleia Legislativa aprova emenda do deputado Jorge Calmon, pela qual é instituída a Lei Orgânica do Município de Salvador.

Entre os primeiros atos do governo para cumprimento da Constituição Estadual ressalta-se a extinção da Delegacia de Ordem Política e Social e a concessão de. Repercute desfavoravelmente na Assembleia Legislativa o discurso do deputado Ramiro Berbert de Castro, no qual propõe medidas ao governo que desamparariam a Viação Sul Baiano, empresa de transportes criada pelo Instituto de Cacau da Bahia, considerada uma das melhores do estado.

O Conselho Nacional do Petróleo comunica, oficialmente, a localização de novos campos oleíferos na região circunvizinha à cidade de São Francisco do Conde. Os dois primeiros poços têm uma vazão diária de 1.000 barris.

É instalada definitivamente a Federação de Comércio do Estado da Bahia, filiada à Confederação Nacional do Comércio.

Avaliação da seca no estado deixa a previsão de redução de cerca de um milhão de arrobas na safra do cacau.

A convite do governador Otávio Mangabeira, chega a Salvador um grupo de industriais de São Paulo, que analisarão a possibilidade de instalação de fábricas no estado.

Importados da Suécia, são desembarcados em Salvador os primeiros refrigeradores Electrolux, com alimentação a querosene.

O advogado e professor Sílvio Valente alcança grande popularidade com a crítica literária e, sobretudo, com a sua sátira em prosa e versos. Mantém-se na imprensa baiana em franca atividade, sob os pseudônimos de Bernardo Só e Pepino Longo. O seu maior alvo é o Parlamento Estadual, cujos representantes retrata com muito bom humor:

“Na Assembleia Estadual, esboça-se um movimento de consequências imprevisíveis. Trata-se de um novo partido, ao qual já aderiram deputados de todas as correntes. Apesar do natural sigilo que vem caracterizando a ação dos seus fundadores, podemos adiantar o seu registro: Movimento de União Democrática Ordeira e Silenciosa, M.U.D.O.S. A chefia, parece, será do deputado Elísio Medrado, velho político de larga e silenciosa experiência. 

O M.U.D.O.S. vai de vento em popa. Eleito secretário geral o deputado Optaciano Oliveira, que optou tacitamente pelo silêncio no início de sua vida pública. Aumentam as adesões, das quais merece realce o nome ilustre de Adão Bastos, que, tal qual o primeiro homem, anda sempre despido… de ideias.

A adesão do deputado Souza Dantas não foi aceita, pois a sua função de secretário o obriga a falar, lendo a ata. Também foi posta em dúvida a coerência doutrinária de certos deputados, como o Osvaldo Rios e o Ramiro Berbert, que, segundo apurou a rigorosa Comissão de Sindicância, já abriram a boca para dar apartes.

Muita efervescência na Assembleia. Além do M.U.D.O.S., que já é vitorioso, articula-se agora, segundo Balbino, uma coligação Antigramatical Republicano-Petebista. Segundo corre, o líder da nova bancada sairá dentre os deputados Expedito Cruz, Inácio Souza e Manoel Cícero. Achamos a escolha dificílima… como diria qualquer um deles, são ‘ambos os três merecedores do cargo’…

Na Assembleia Legislativa, quem melhor justifica o nome é Expedito Cruz: expedito em pedir a palavra, mas, quando fala, cruz!..

Do M.U.D.O.S. recebemos a seguinte nota: ‘Cumprindo doloroso dever, tornamos pública a expulsão do deputado Joaquim Hortélio, por sua inqualificável atitude de abrir a boca, em plenário, para pedir as horas ao nosso secretário geral Optaciano Oliveira, que, coerentemente, nada respondeu’.”

 Por ocasião do empastelamento do jornal comunista O Momento, nesta capital, o deputado federal Juracy Magalhães, em cujo governo da Bahia, como interventor, vários jornalistas foram espancados, tece críticas ao fato, ao que lhe responde o poeta satírico Sílvio Valente:

“Oh, Juracy, afina!
Tem no caso boas vistas:
não empastela o jornal,
Empastela os jornalistas…”

 Na Comissão de Finanças, o deputado Aliomar Baleeiro refere-se aos “cochilos de Homero”, afirmando: “Acabamos de ouvir o ponto de vista, o que não foi um cochilo de Homero, foi um mero cochilo…”

Numa roda de parlamentares, discutia-se o fechamento do Partido Comunista. Opinavam todos e ninguém se entendia. Foi quando Antônio Balbino, agudo como sempre, observou: “– Homem!… Esse Estado Novíssimo vai ‘dutrar’ uns quinze anos…”

Na Assembleia Estadual Constituinte, em discurso, o deputado Inácio erra o plural da palavra cidadão, provocando risos. Assim Silvio Valente registra o fato:

“Representando o seu povo,
Inácio tem mil razões.
Cidadãos do Estado Novo
Só podem ser cidadões…”

Mais uma do poeta: “O M.U.D.O.S. está em efervescência, em virtude da expulsão de Oscar Teixeira, cujo irmão, Anísio, falou mais de duas horas, perante a Assembleia. Alega-se que isso prova a existência de micróbios oratórios na família do confrade, cujo afastamento se impõe como medida profilática”.

Morre em Salvador o jornalista Thales de Freitas, principal fundador da Associação Baiana de Imprensa, tendo atuado em vários periódicos, tais como A Imprensa, Gazeta do Povo, A Noite, A Hora, A Rua e o Diário Oficial do estado.

Na imprensa brasileira é divulgada a campanha de alfabetização de adultos, que ganha corpo no Ministério da Educação através do baiano nos meios educacionais do Brasil, o educador Abílio César Borges, barão de Macaúbas, fundador do Ginásio Baiano, que inaugurou no Rio de Janeiro o curso especializado para a alfabetização dos adultos através de método por ele criado.

É lançada, com a presença do governador Otávio Mangabeira, a pedra fundamental do novo Estádio da Graça.

Causa repercussão em todo o país a morte do escritor baiano, natural de Lençóis, Afrânio Peixoto, que deixa importante obra literária. Era, ainda, membro da Academia Brasileira de Letras e professor catedrático de Medicina Legal das Faculdades de Direito e Medicina da Universidade do Rio de Janeiro.

Morre o escritor Carlos Chiacchio, causando uma grande perda para a Bahia e sua cultura. Desenvolveu intensa atividade na área artística, sendo inspirador e iniciador da Ala das Letras e das Artes.

Jornal A Tarde, 3 de dezembro de 1947

Jornal A Tarde, 3 de dezembro de 1947

O cadastro torácico já é uma realidade em Salvador, como preventivo e diagnose da tuberculose e consequente encaminhamento ao tratamento. 

O primeiro Banco de Sangue da Bahia inicia o funcionamento no Hospital Santa Isabel.

Inicia-se a construção no bairro do São Caetano, em Salvador, de 500 casas populares doadas pelo industrial Renato Schindler.

A Academia de Letras da Bahia adquire, no Rio de Janeiro, as cópias dos trabalhos da Academia Brasileira dos Esquecidos, primeira academia literária, fundada em 1724 e orgulho da Bahia, cujos originais pertencem ao Instituto Histórico do Brasil.

As chuvas provocam o transbordamento de grandes rios e se registram inundações em todo o estado: Cachoeira e São Félix, cidades banhadas pelo Paraguaçu, estão sob as águas. Em Nazaré das Farinhas, o quadro é o mesmo e, no sul, também estão em dilúvio Ilhéus e Itabuna.

O pintor baiano Presciliano Silva é alvo de homenagens pela brilhante e justa vitória alcançada com o prêmio máximo do Salão Nacional de Belas Artes de 1947.

Praça Cairu “Nesta praça sombrejada, vivia uma pequena multidão de fotógrafos lambe-lambe, vendedoras de quitutes, engraxates, mercadores de drogas milagrosas, músicos, cantores e era também o lugar de predileção de Rodolfo Coelho Cavalcanti, poeta popular.” (Retratos da Bahia. Pierre Verger

Praça Cairu
“Nesta praça sombrejada,
vivia uma pequena multidão
de fotógrafos lambe-lambe,
vendedoras de quitutes,
engraxates, mercadores
de drogas milagrosas, músicos,
cantores e era também o lugar
de predileção de Rodolfo Coelho
Cavalcanti, poeta popular.”
(Retratos da Bahia. Pierre Verger

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