Governador:
Joaquim Manoel Rodrigues Lima
Presidentes da Assembleia Geral:
Cícero Dantas Martins
Antônio Calmon Góes
Presidente do Tribunal de Justiça:
Luiz Viana
As eleições para deputados e um terço do Senado, realizadas no ano anterior, acirram os ânimos em muitos municípios do interior do estado, que se tornam palco de violência pela disputa do controle político local. Nem o próprio governo do estado consegue controlar a situação. Em editorial, o Diário da Bahia denuncia n atitude do governo estadual frente à apuração das eleições, quando, “inconformado com o resultado, utilizou-se do seu corpo de soldados para implantar o desassossego e o terror, ameaçando os poderes locais”.
O desmando na apuração das eleições, em que as práticas fraudulentas mais diversas são aplicadas, resulta em graves violências. A desordem no sertão é generalizada, os conflitos entre grupos locais estimulam a ação de bandidos à prática de atos de vandalismo, que invadem cidades e levam pânico à população interiorana. Em diversas localidades, entre as quais Andaraí, Xique-Xique, Vila Nova, Lençóis, Cachoeira, Bonfim e Feira de Santana, a população é obrigada a se armar e os comerciantes encaixotam suas mercadorias, temendo prejuízos maiores. O governador Rodrigues Lima é acusado de omissão no combate ao banditismo, o que
dá força aos saques e às devastações.
É divulgado um abaixo-assinado da população de Feira de Santana contra o Conselho Municipal, no qual acusam de realizar “clandestina e criminosamente” a apuração das eleições de 4 de novembro de 1894.
A pedido do governador Rodrigues Lima, o arcebispo dom Jerônimo Tomé envia uma Santa Missão de Frades Capuchinhos, comandada pelo frei João Evangelista de Monte Marciano, para a localidade de Canudos, com o objetivo de dissolver a comunidade. Após encontro com o Conselheiro, que os recebe amistosamente, e não conseguindo dissolver o arraial, o frei Monte Marciano conclui em relatório pela necessidade de intervenção do poder público em Canudos, para o restabelecimento da ordem. O deputado federal Érico Coelho comenta com ironia as conclusões do relatório: “Se os nobres deputados lerem esse relatório do frade, ficarão pasmos das expressões amorosas que ele prodigaliza à República, pois, ao pretexto de defender a ordem pública e as instituições republicanas, a intenção do clero foi mover a guerra religiosa”.
É publicado no Diário da Bahia o manifesto do grupo neoliberal, cujos membros tentam “consertar” a ilegalidade denunciada na eleição em Cachoeira, onde, dizem, a apuração foi obscura e “pautada na imoralidade na falsificação, sob a proteção do aparato policial do inescrupuloso governador do estado.”
Morre, no Rio de Janeiro, o senador José Antônio Saraiva, cuja longa vida pública abrange cinquenta anos de história do 2º Reinado.
Nas eleições para preenchimento de vagas no Senado Federal, dois nomes baianos se destacam: José Gonçalves da Silva, do Partido Republicano Constitucional, e Severino dos Santos Vieira, pelo Partido Republicano Federalista.
O Diário da Bahia continua a denunciar o governo Rodrigues Lima, acusando-o agora de má aplicação dos recursos financeiros do estado (que encontrara saneado), favorecendo principalmente a área militar. O quadro é de abandono, principalmente quanto a “investimentos em setores de interesse do povo”. O jornal prossegue em suas críticas à ação de Rodrigues Lima e Luiz Viana, responsabilizando o governador pela intranquilidade no sertão e pela “campanha mentirosa” contra os constitucionalistas. Denuncia, ainda, que de Alagoinhas chegam notícias do desembarque de armas (100 carabinas e muita munição), com destino a Pombal, enviadas pelo governador Rodrigues Lima “aos empreiteiros das imoralidades eleitorais e da devastação do sertão.” Registra, ainda, o periódico que “depois da remessa de armamentos para os Lençóis, temo-la agora para a comarca do Bom Conselho, onde é juiz de direito o célebre dr. Arlindo Leoni”.
Finalmente, é sancionada pelo governo do estado a Lei Orgânica dos Municípios. Por meio desta, os municípios alcançam a sua autonomia administrativa, sendo-lhes atribuída, ainda, a responsabilidade de organizar guardas municipais e corpos de bombeiros.
Com o objetivo de garantir o reconhecimento aos deputados e senadores por parte do governo do estado, assegurando-se ao Legislativo plena liberdade de ação, o Partido Republicano Constitucional nomeia uma comissão de parlamentares para manter entendimentos com o governador Rodrigues Lima.
Com tantas críticas, o governo não escaparia da verve satírica:
“Não lamentes, oh, Lima! O teu estado
Rato tem sido muita gente boa
Ratazanas por lá andam à toa
Milhões de vezes ratos têm reinado.
O Viana como rato é apontado
O Victú no porrete ganha a c’roa
O Arthur com toda a sua prôa
Na história não passa por honrado.
O Severino é rato perigoso
Seguindo a antiga lei da velha trêta
E entre ratos mil vive vaidoso.
Se o Viana deixou-te seu mais têta
Não fiques mais, oh, Lima! Duvidoso
Isto de honra e tal é tudo… pêta.
O Sertanejo (Riacho de Casa Nova), sátira a governador Rodrigues Lima
A primeira sessão preparatória das duas câmaras legislativas do estado, a Câmara dos Deputados e o Senado Estadual, revela o lado arbitrário do poder: jagunços ostensivamente armados são postados nas proximidades do prédio pelo Partido Federalista, numa demonstração de forças aos constitucionalistas. Na Câmara reúnem-se os deputados estaduais legalmente diplomados, assumindo a presidência o coronel Martins Duarte. No Senado, abre-se a sessão preparatória sob a presidência do barão de Jeremoabo, seguindo-se o sorteio da comissão responsável pela condução dos trabalhos.
Acumulam-se denúncias de fraudes nas eleições realizadas em 3 de março, para preenchimento de uma vaga no Senado Federal. O Diário da Bahia apresenta um quadro de desproporção entre o número de habitantes e de eleitores em vários municípios, entre eles, Bonfim, Monte Santo e Jeremoabo. Os mapas eleitorais vêm sendo, assim, contestados pelo jornal, que os considera confeccionados “com má fé”.
A Assembleia Geral do estado vota a proposta da Câmara dos Deputados adiando para o dia 5 de julho o início dos trabalhos da legislatura, que deveriam se instalar a 7 de abril.
O jornal Diário da Bahia, de oposição ao governo Rodrigues Lima, é atacado por vândalos, que destroem as suas instalações e mancham paredes com o sangue das pessoas ali feridas. O mesmo jornal, posteriormente, classifica de “comédia ridícula” o fato de o governador assumir, com a polícia, a responsabilidade de apurar o fato e punir os culpados.
A imprensa volta a criticar o governo Rodrigues Lima, desta vez no que diz respeito ao déficit verificado na vida econômica do estado, sobretudo em virtude dos empréstimos externos contraídos sem maiores cuidados.
Por ato oficial do governo estadual, é concedida a alguns cidadãos, mediante termo, permissão para realizar a exploração de minas de ouro e outros metais, na comarca de Minas do Rio de Contas.
A Bahia inaugura, em sua data máxima, o monumento ao Dois de Julho, erguido em homenagem à conquista da liberdade pelo povo baiano. O Diário da Bahia, em editorial, afirma que “(…) a coluna alegórica há de levar pelas idades além a memória mais eloquente das nossas lutas pela constituição e independência do país. Monumento erguido à liberdade, não repele, antes abraça a crença republicana, que é um desenvolvimento dos velhos códigos, derrogados ou aperfeiçoados ao influxo da nova doutrina que os apóstolos de 89 disseminaram pelo mundo (…)”.
“Não, não eram dois povos que abalavam
Naquele instante o solo ensanguentado:
Era o porvir em frente do passado.
A liberdade em frente à escravidão;
Era a luta das águias e do abutre,
A revolta dos pulsos contra o ferro,
O pugilato da razão com o erro,
O duelo da treva e do clarão.”
(Castro Alves, Ode ao Dois de Julho)
É instalado outro fonógrafo, este agora no “arrebalde da Barra”, para proporcionar sessões fonográficas ao público que frequenta as festas populares.
Publica-se o primeiro número do jornal A Voz do Operário, que se define como representante e órgão das classes que advoga, inteiramente estranho às lutas partidárias”.
O Grêmio Evolução empenha-se na construção de monumento em homenagem a Castro Alves, deflagrando uma campanha para angariar recursos. A iniciativa é elogiada pela imprensa.
Realizada homenagem póstuma, no teatro Politeama Baiano, ao ator Xisto Bahia, cujo trabalho não se restringiu ao nosso estado, mas se espalhou pelo Brasil, em companhias teatrais de nome, como a do ator Manuel da Silva Lopes Cardoso e a empresa de Furtado Coelho. Xisto Bahia, natural de Salvador, foi também compositor de modinha e valsa, além de ter colaborado com a revista paraense O Farol, de cunho científico. A homenagem constou da encenação da comédia Como se fazia um deputado, do repertório de Xisto, pelos atores da Companhia Dramática de Moreira de Vasconcelos, e a sua renda foi revertida para a viúva e filhos do ator. A companhia, originária do Rio de Janeiro, vem se apresentando com êxito em Salvador.
A Bahia presta homenagem ao maestro Carlos Gomes, autor consagrado de O Guarani, Schiavo e Condor, entre outras obras musicais, e ora em visita a Salvador, por ocasião do concerto realizado pela Sociedade Euterpe, no Politeama Baiano. Desta capital o maestro segue para a Europa, a bordo do vapor inglês Potosi.