Bahia de Todos os Fatos

...1889 - 1899...

Grande seca penaliza o estado

Governador:
Luiz Viana
Presidente da Assembleia Geral:
José Aquino Tanajura
Presidente da Tribuna da Justiça:
Antônio José de Castro Lima

Desmembra-se de Monte Santo o território do Cumbe, no sertão baiano. A sua criação remonta à Lei Provincial de número 253 e surge do núcleo de povoamento na fazenda de Antônio Francisco e Souza Reis, popularmente major Antônio, anteriormente habitado por índios Kaimbés, da tribo dos Tupiniquins. (Torna-se definitivamente autônomo em 1933 e passa a chamar-se Euclides da Cunha, em homenagem ao escritor homônimo que por lá passara no final do século, registrando, como repórter, a Guerra de Canudos). 

Realizando uma retrospectiva dos fatos ocorridos no ano anterior, o Diário da Bahia destaca a Guerra de Canudos e a forte influência dos monarquistas da capital federal, os quais, segundo o jornal fonte, teriam sido responsáveis pelo fornecimento de armas e dinheiro aos conselheiristas.

No Conselho Municipal de Salvador, discute-se a cobrança de uma taxa para a coleta do lixo, sobretudo nas áreas comerciais.

A desordem no sertão continua, sobretudo na região de Poções e Vitória
da Conquista. Setores da população da região têm consciência de que de nada adiantará o governo mandar tropas para combater os bandidos, pois os “coronéis” são os principais causadores da desordem. A disputa política na região é acirrada e a fraude nas eleições, uma prática comum.

Campos Sales é eleito presidente da República, assumindo o cargo em 15 de novembro.

Manoel Vitorino Pereira deixa a presidência do Senado Federal. No exercício desse cargo, que se constitui no primeiro na linha de sucessão do presidente da República, chegou a governar o país por cerca de quatro meses, de novembro de 1896 a março de 1897, em decorrência de enfermidade do presidente Prudente de Moraes. 

Severino Vieira é nomeado ministro da Viação pelo presidente Campos Salles.

O Instituto Geográfico e Histórico cria a Comissão Histórica Braz do Amaral, com o objetivo de estudar a campanha de Canudos, do ponto de vista histórico, político, jurídico, militar e religioso.

A Associação Comercial lança um manifesto solicitando a intervenção do governo no jogo do bicho, afirmando que cabe ao estado e à polícia a erradicação de tal prática, “que prejudica e marginaliza parte da sociedade baiana.”

É grave a crise financeira que o país atravessa: os preços encontram-se elevadíssimos, o comércio marca passo. A situação cambial é preocupante, já que o governo federal gasta dois terços da receita nos compromissos com a despesa pública, pouco investindo em obras nos estados.

Balanço realizado pela imprensa na data do segundo aniversário do governo Luiz Viana destaca a pacificação do sertão. 

O Senado Estadual aprova a construção de mais seis usinas de açúcar no estado, o que provoca reação e críticas da sociedade baiana, que entende ser prioritária a produção de alimentos, escassos devido à seca, o que obriga o governo a proceder à importação de tais gêneros.

Funcionários da Delegacia Fiscal reclamam de atraso no pagamento dos seus salários.

O presidente eleito, Campo Sales, de passagem por Salvador em retorno da Europa, para onde se deslocou logo após a eleição, para contatos com banqueiros internacionais, demonstra apreensão com a atual situação cambial do país.

Forte seca castiga o estado, provocando manifestações da população da região Centro-Oeste, que requer providências ao governo. Os produtos somem das feiras livres, os preços disparam. A situação da agricultura é preocupante, já que, além da seca, a produção de gêneros alimentícios é escassa, obrigando o governo a adquirir alimentos em outros estados. A região de Santo Amaro também é castigada, as propriedades agrícolas são fechadas e o gado definha à mingua de pastagens e água.

O jornal Diário da Bahia publica uma carta assinada sob o pseudônimo “Camisão”, com uma reflexão sobre as condições de vida do sertanejo que abandona sua terra e vai tentar a vida nos centros urbanos, forçado pela seca. “Sugando vidas (…) O sertanejo, tendo no pensamento a esperança e no coração a saudade do seu berço, das terras que cultivou (…) tudo abandona, se o não pode vender, e, em uma sacola enfiada em um dos ombros, onde leva tudo o que não devia ficar, à testa da pequena caravana, carregando alternadamente as crianças quando choram de cansadas, vai, quase sem destino, cada vez mais com o coração lanceado de dores, vendo por toda a parte a mesma miséria, por todos os lados a mesma vegetação ressequida, a mesma terra crestada, sem água para aliviar-lhe a sede, sem pão para Ihe matar a fome, confiando não sabendo mesmo em quê, e tendo, para sustentar-lhe as forças, o espírito, o coração, a vida, a constância da mulher que consigo reparte as alegrias e as dores da família (…)”

“A farinha está tão cara Como antes da providência... Será culpa do Conselho ou será da Intendência?” (Zé Marmello)“A farinha está tão cara
Como antes da providência…
Será culpa do Conselho
ou será da Intendência?”

(Zé Marmello)

A especulação e exploração no preço da farinha de mandioca e do charque, produtos muito consumidos, contribuem ainda mais para o flagelo dos menos favorecidos. O Conselho Municipal vota medidas para amenizar a crise.

Notícias chegadas de Ilhéus dão conta de que o inspetor de higiene solicita providências às autoridades do estado para o combate à varíola, que ali já se manifesta com grande intensidade.

Continuam as reclamações dos professores de alguns municípios acerca do atraso no pagamento dos seus salários.

Interior do Museu Histórico de Canudos - Açude de Cocorobó.

Interior do Museu Histórico de Canudos – Açude de Cocorobó.

A situação de sujeira da cidade, embora amenizada com a verba para resolvê-la, ainda é tema para Zé Marmelo:

“P’ra o lixo, que assoberbava,
veio a verba salvadora.
Mas creiam que eu não pensava
Que a terra de piaçava
Não tivesse uma vassoura.”

A varíola continua se alastrando pelo interior, atingindo agora a cidade da Barra, no oeste do estado.

O rumoroso julgamento do escritor naturalista francês Émile Zola não passa despercebido na Bahia. Logo no seu início, a imprensa lhe dedica editorial, e chega a ser fundado o Club Émile Zola, para dar ânimo ao escritor.

O médico Nina Rodrigues, catedrático da Faculdade de Medicina, e agraciado com o título de sócio correspondente da Societé Médico-Psychologique de Paris.

Os jornais começam a veicular classificados para serviços domésticos. A elite baiana está preocupada com a dificuldade de mão de obra no setor e já recorre ao chamamento pela imprensa.

A imprensa denuncia a presença de duas crianças provenientes de Canudos, em estado de semiescravidão nas mãos de um praça do 16º Batalhão, que as espanca continuamente.

Ante a precariedade da iluminação pública na capital, com grande número de combustores apagados, o Diário da Bahia publica os versos:

“É justo que os candeeiros
Se conservem como estão
Até ver se conselheiros
Fazem luz sobre a questão
Creio já não há quem ouse
Dar ao gás convalescença
Mata-o a arteriosclerose
Que é toda a sua doença”

(Zé Marmello)

A Santa Casa de Misericórdia comunica que qualquer sepultamento no cemitério do Campo Santo, em Salvador, só poderá se realizar mediante a apresentação da Guia da Repartição Central, certificado fornecido pelo escrivão de paz.

Inaugurada a Companhia de Seguros Sul América, em uma das salas da Associação Comercial.

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