Bahia de Todos os Fatos

...1930 - 1939...

Parlamentos são dissolvidos com o estado novo

Governador:
Capitão Juracy Magalhães

Interventores:
Coronel Antônio Fernandes Dantas

Presidente da Assembleia Geral
Manoel Mattos Corrêa de Menezes

Presidente do Tribunal de Justiça
Pedro Ribeiro de Araújo Bittencourt

São libertados no Rio de Janeiro os integralistas baianos que lá se achavam presos. Os adeptos católicos da Ação Integralista Brasileira mandam celebrar missa em ação de graças, na igreja de Santa Rita. 

Em discurso na Câmara Federal, o deputado J.J. Seabra aborda o “acordo anti-intervencionista” assinado pelos situacionistas gaúchos, paulistas e baianos em defesa da autonomia dos estados, ameaçada, segundo o deputado, pelo governo da República. Da tribuna, o parlamentar cobra explicações, por meio de requerimento, sobre novas medidas centralizadoras.

São abertos os debates sobre a sucessão presidencial, com as eleições marcadas para 3 de outubro do ano seguinte. Algumas candidaturas já postas: Armando Salles de Oliveira, interventor de São Paulo, José Américo de Almeida, um dos líderes da Revolução de 1930, e Plínio Salgado, líder da Ação Integralista Brasileira. Armando Salles, candidato da oposição, recebe apoio de diversas agremiações políticas no estado, a exemplo do recém-fundado Partido Popular Baiano, da União Democrática Comerciária da Bahia e da Concentração Autonomista, entre outras. Plínio Salgado, utilizando o slogan “Deus, Pátria e Família”, recebe uma significativa adesão nos meios conservadores do estado.

O deputado João Mangabeira, julgado sob a acusação de ser simpatizante da Aliança Nacional Libertadora (ANL), é condenado a três anos e seis meses de prisão. Grande protesto popular marca a sentença do Tribunal de Segurança, a que se seguem também os protestos da bancada.

Autonomista da Assembleia do estado, além de diversas outras manifestações, entre as quais uma moção de apoio dos estudantes de Direito da Bahia, na qual o deputado é denominado “defensor sacrificado da democracia”. Pronunciando-se acerca do apoio recebido dos estudantes, afirma João Mangabeira: “não me abate nem me atinge a sentença monstruosa, ditada pelo ódio de um tribunal de exceção contra o qual a princípio me levantei com o meu protesto e depois repeli com o meu desprezo”.

Da Câmara Federal, o deputado Otávio Mangabeira lê o manifesto da UDB (União Democrática Brasileira). Depois de considerações sobre o panorama nacional, exalta o ato de renúncia do general Flores da Cunha (do Ministério da Guerra) e mantém a candidatura de Armando Salles.

Pela imprensa, o parlamentar J.J. Seabra continua sua saraivada de críticas ao governador da Bahia, Juracy Magalhães, “forasteiro que ali se instalou (…) e que não sabe manter uma linha de compostura como governador de um grande estado”.

Ante a gravidade da situação nacional, Getúlio Vargas preside uma conferência no Palácio da Guanabara, da qual participam militares e ministros de sua confiança, além de outras autoridades. O ministro da Justiça declara aos jornalistas que a execução do estado de guerra vem transcorrendo normalmente, demonstrando às autoridades interesse em colaborar na ação contra o comunismo.

A União Operária de São Francisco realiza grande concentração em Itapagipe, de onde os manifestantes saem em passeata. Reivindicam melhores salários, mas não evitam o clima político dos discursos, reflexo da situação em que se encontra o país.

Na Bahia, diversas medidas de exceção já se fazem sentir, amparadas sob o eufemismo do estado de guerra, e a pretexto da preservação do regime. Por ordem do ministro da Justiça, são fechadas as lojas maçônicas. 

Morre, acometido de enfermidade súbita, o prefeito de Salvador, José Americano da Costa. Conforme a lei, assume o cargo o presidente da Câmara de Vereadores, Bezerra Lopes.

O cenário político nacional se agita e se radicaliza, e o confronto entre integralistas e comunistas faz ferver o ambiente dos comícios. Getúlio “constrói” o que chama de golpe preventivo contra integralistas, comunistas e liberais, articulando-se com os governadores estaduais em busca de apoio. O governador Juracy Magalhães, não é comunicado, por se opor ao golpe, permanecendo fora do movimento que, dentro em pouco, mudaria o Brasil. Tendo como pretexto a descoberta de um plano de conspiração comunista (plano Cohen), Getúlio Vargas instala a ditadura, em 10 de novembro. Juracy Magalhães renuncia no mesmo dia, alegando incompatibilidade com os ditames da nova ordem, e transmite o governo ao comandante da Região Militar. São fechados o Senado e a Câmara de Deputados, iniciando-se um período de treva ditatorial.

Através da imprensa, o ex-governador baiano e ex-deputado federal J.J. Seabra conclama seus amigos e correligionários a prestigiarem o interventor nomeado para a Bahia, coronel Antônio Fernandes Dantas.

A União Operária de São Francisco promove manifestação de apoio ao novo interventor, que é aclamado pela multidão presente à praça do Palácio Rio Branco.

Getúlio Vargas oficializa o Estado Novo, levando o país novamente a um regime de exceção, de repressão política e supressão do sistema representativo, de suspensão das garantias e direitos individuais, das liberdades públicas e do direito ao voto. A centralização do poder atinge seu clímax, quando, em comemorações públicas realizadas em todas as capitais, são queimadas as bandeiras estaduais.

O governo baiano entra na nova ordem, após a comunicação, pelo governo federal, da substituição do estado de guerra pelo estado de emergência, eufemismo para justificar a prática de atos arbitrários e a suspensão das liberdades democráticas.

A imprensa registra que a nova situação política do estado traz à tona um lado obscuro do governo anterior: denuncia-se a existência, ao lado das Polícias Civil e Militar, de uma outra, específica da “segurança palaciana”, mas, na verdade, constituída por desordeiros contumazes disfarçados em funcionários públicos –trabalhadores da limpeza urbana. Em momentos de agitação política, eram ativados contra os adversários do governo. A presença de tais elementos seria de tal modo forte que o próprio chefe do governo censurava o seu trânsito na intimidade doméstica do palácio.

Da cidade de Alagoinhas chegam à capital pedidos desesperados de ajuda: a varíola grassa com violência, atingindo grande parte da população, que não dispõe de recursos para dar combate ao surto da doença.

É inaugurado em Salvador o Serviço de Transfusão de Sangue, sob a direção dos médicos Eduardo Araújo, Menandro Novaes, Estácio Gonzaga e Milton Seixas.

Com a presença do ministro da Educação e de outras autoridades, registra-se o lançamento da pedra fundamental para construção do Hospital das Clínicas da Bahia, unidade vinculada à Universidade Federal da Bahia.

O indivíduo de nome José Manoel, solteiro, baiano de Barreiras, bem falante e bem vestido, com 20 anos de idade e passagem pelas polícias do Rio de Janeiro e São Paulo, faz-se passar por deputado estadual da Bahia na capital mineira. Hospedando-se no Hotel Sul-Americano, chama a atenção pelos ostensivos gastos que pratica: automóveis alugados, boa bebida, boas roupas e muito champanhe para mulheres. Acaba desmascarado quando chamado a apresentar documentos de identificação ante a autoridade policial.

Começam a ser publicados, com certa frequência, estudos e pareceres sobre as exigências urbanísticas que Salvador já está a necessitar, devido ao grande trânsito de veículos em contraste com as suas ruas estreitas e enladeiradas. A ligação entre as duas partes da cidade se concentra na Ladeira da Montanha e, na Cidade Alta, só se estende via avenida Sete, havendo momentos de grande congestionamento. Surge a proposta do alargamento da rua Manoel Vitorino, a partir da igreja da Conceição da Praia, numa reta até a rua do Sodré, derrubando alguns prédios velhos daquela artéria.

Após uma suspensão por 47 anos, volta a empolgar os baianos a lavagem do Bonfim, fazendo reviver a fé do povo no seu protetor máximo. Desta vez, a proteção policial garante a paz dos festejos, evitando-se que os mesmos voltassem a ser alvo de proibição pelo arcebispado.

Acontece em Salvador, presidida pelo médico Eduardo Araújo, criador do evento, a primeira sessão pública do IBIT (Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose). Registra-se grande presença de cidadãos interessados.

O Diretório da Liga Baiana Contra o Analfabetismo realiza um comício popular, no bairro da Capelinha de São Caetano, em prol da erradicação da ignorância. A sua principal figura, o major Cosme de Farias, funda a escola primária Livino de Amorim, com capacidade para quarenta crianças.

É inaugurado em Salvador o Instituto de Cegos da Bahia, entidade de caráter humanitário, sem fins lucrativos.

Edson Carneiro publica Candomblés da Bahia e organiza, com Artur Barros, o II Congresso Afro-Brasileiro. Getúlio Vargas suspende a incriminação, até então existente, da capoeira dançada e lutada com berimbaus e atabaques.

O mundo esportivo baiano experimenta emoções contraditórias: assiste à derrota do Esporte Clube Bahia ante o Atlanta, revelação do campeonato argentino, mas se vinga com a derrota do mesmo pelo Esporte Clube Ipiranga, time bastante popular na Bahia.

O romance social se impõe, com a publicação de Capitães da Areia, de Jorge Amado, ambientado nas ruas de Salvador e chamando a atenção do país para o problema da infância e juventude das ruas. O jornal A Tarde assim se referiu aos chamados “capitães da areia”: “Quem conhece de perto a existência destes vagabundinhos e os perigos que oferecem à segurança da sociedade é que pode avaliar quão grande é o problema da vadiagem nociva de menores desta capital. São dezenas e dezenas de garotos que povoam os guetos da cidade, mal alimentados, dormindo ao relento e entregues à mais perigosa ociosidade”.

Morre na cidade de Castro Alves, interior da Bahia, já nonagenário, o coronel Davino da Silva Figueiredo, o último contemporâneo e amigo do poeta Antônio de Castro Alves, de que se tem conhecimento.

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